O Conde de Monte Cristo - Cap. 41: A apresentação Pág. 411 / 1080

E entrou na carruagem, que se fechou atrás dele e partiu a galope, mas não tão depressa que o conde não visse o movimento imperceptível que fez tremer o reposteiro da sala onde deixara a Sr.ª de Morcerf.

Quando Albert voltou para junto da mãe encontrou a condessa no boudoir, enterrada numa grande poltrona de veludo. Todo o aposento mergulhado em sombra, só deixava ver o reflexo cintilante emitido aqui e ali pelo ventre de qualquer jarrão ou pelo canto de alguma moldura dourada.

Albert não pôde ver o rosto da condessa, oculto numa nuvem de gaza que ela enrolara à volta do cabelo como uma auréola vaporosa, mas pareceu-lhe que tinha a voz alterada.

Distinguiu também, entre os perfumes das rosas e dos heliotrópios da jardineira, o cheiro acre e penetrante dos sais de vinagre. Com efeito, o frasco da condessa, tirado da sua capa de chagrém e colocado numa das taças cinzeladas da chaminé, atraiu a atenção inquieta do jovem.

- Dói-lhe alguma coisa, minha mãe? - perguntou assim que entrou. - Sentiu-se mal durante a minha ausência?

- Eu? Não, Albert. Mas, compreendes, estas rosas, estas tuberosas e estas flores de laranjeira exalam durante estes primeiros calores, a que não estamos habituados, um perfume tão intenso...

- Então, minha mãe - redarguiu Morcerf, levando a mão à campainha - é preciso mandar levá-las para a sua antecâmara Está realmente indisposta. Já há pouco, quando entrou, estava muito pálida.

- Estava pálida, dizes tu, Albert? - De uma palidez que lhe fica maravilhosamente, minha mãe, mas que nem por isso nos assustou menos, a meu pai e a mim.

- O teu pai falou-te disso? - perguntou vivamente Mercédès.

- Não, senhora, mas foi a si própria, lembre-se, que ele fez essa observação.

- Não me recordo - disse a condessa.

Entrou um criado. Acudia ao toque de campainha de Albert.

-Leve estas flores para a antecâmara ou para o quarto de vestir - ordenou o visconde. - Incomodam a Sr.ª Condessa.

O criado obedeceu.

Seguiu-se um longo silêncio, que durou durante todo o tempo que levou a transferir as flores.

- Que nome é esse de Monte-Cristo? - perguntou a condessa, quando o criado saiu levando a última jarra de flores. - é um nome de família, o nome de uma terra ou um simples título?

- Creio que é apenas um título, minha mãe. O conde comprou uma ilha no arquipélago toscano e, segundo ele próprio dizia esta manhã, instituiu uma comendadoria. Como sabe, isso era prática corrente em Santo Estêvão de Florença, S. Jorge Constantiniano de Parma e até na Ordem de Malta. Aliás, não tem nenhuma pretensão à nobreza e diz-se um conde de acaso, embora a opinião geral em Roma seja que o conde é um grandíssimo senhor.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069