- As suas maneiras são excelentes - declarou a condessa. Pelo menos segundo me foi dado apreciar nos curtos instantes em que cá esteve.
- Oh, perfeitas, minha mãe! Tão perfeitas até que excedem em muito tudo o que tenho conhecido de mais aristocrático nas três nobrezas mais orgulhosas da Europa, isto é, na nobreza inglesa, na nobreza espanhola e na nobreza alemã.
A condessa reflectiu um instante e depois de curta hesitação prosseguiu:
- Como compreenderás, meu querido Albert, a pergunta que te vou fazer é uma pergunta de mãe. Conviveste de perto com o Sr. de Monte-Cristo e possuis a perspicácia, a experiência do mundo e mais tacto do que é habitual na tua idade. Achas que o conde é o que parece realmente ser?
- E que parece ele?
- Tu próprio o disseste há pouco: um grande senhor.
- Disse-lhe, minha mãe, que o consideravam como tal.
- Mas qual é a tua opinião, Albert?
- Confesso-lhe que não tenho opinião bem assente a seu respeito. Julgo que é maltez.
- Não te perguntei qual era a sua origem; interrogo-te acerca da sua pessoa.
- Ah, acerca da sua pessoa é diferente! Tenho visto tantas coisas estranhas nele que, se quer que lhe diga o que penso, respondo-lhe que o compararia sem custo com um desses homens de Byron, que a desgraça marcou com o seu selo fatal; com um Manfredo, com um Lara, com um Werner; com um desses «restos», enfim, de qualquer velha família que, privados da fortuna paterna, arranjaram outra a poder do seu espírito aventureiro, que os colocou acima das leis da sociedade.
- Dizes...
- Digo que Monte-Cristo é uma ilha no meio do Mediterrâneo, sem habitantes, sem guarnição, covil de contrabandistas de todas as nações, de piratas de todos os países. Quem sabe se esses dignos industriais não pagam ao seu senhor um direito de asilo?
- É possível - admitiu a condessa, pensativa.
- Mas não importa - prosseguiu o jovem. - Contrabandista ou não, tem de admitir, minha mãe, uma vez que o viu, que o Sr. Conde de Monte-Cristo é um homem notável e que terá o maior êxito nos salões de Paris. Olhe, esta manhã mesmo, nos meus aposentos, inaugurou a sua entrada na sociedade enchendo de estupefacção até Château-Renaud.
- Que idade pode ter o conde? - perguntou Mercédès, ligando visivelmente grande importância à pergunta.
- Trinta e cinco a trinta e seis anos, minha mãe.
- Tão novo? É impossível! - redarguiu Mercédès, respondendo ao mesmo tempo ao que lhe dizia Albert e ao que dizia o seu próprio pensamento.