O Conde de Monte Cristo - Cap. 44: A vendetta Pág. 437 / 1080

- Sim, lembro-me perfeitamente - respondeu Monte-Cristo. - Se me não engano, esse digno homem era até vosso associado.

- Exacto - confirmou Bertuccio. - Mas havia sete ou oito anos cedera o estabelecimento a um antigo alfaiate de Marselha, o qual, depois de se arruinar na sua profissão, resolvera tentar enriquecer noutra. Escusado será dizer que os entendimentos que tínhamos com o primeiro proprietário foram mantidos com o segundo. Era portanto a esse homem que esperava pedir asilo.

- E como se chamava esse homem? - perguntou o conde, que parecia começar a interessar-se pela história de Bertuccio.

- Chamava-se Gaspard Caderousse e era casado com uma mulher da aldeia de Carconte, que só conhecíamos pelo nome da sua terra. Tratava-se de uma pobre mulher atacada da febre dos pântanos, que ia morrendo de definhamento. Quanto ao homem, era um latagão de quarenta a quarenta e cinco anos, que por mais de uma vez, em circunstâncias difíceis, nos dera provas da sua presença de espírito e da sua coragem.

- E diz - atalhou Monte-Cristo-que essas coisas se passavam por volta do ano de...

- De 1829, Sr. Conde.

- Em que mês?

- No mês de Junho.

- No princípio ou no fim?

- No dia 3 à tarde.

- Ah! - exclamou Monte-Cristo - Com que então no dia 3 de Junho de 1829. Bem, continue.

- Era portanto a Caderousse que contava pedir asilo. Mas, como habitualmente, mesmo em circunstâncias normais, não entrávamos pela porta que dava para a estrada, resolvi não contrariar esse costume e saltei a sebe do jardim, deslizei agachado através das oliveiras raquíticas e das figueiras bravas e alcancei, receando que Caderousse tivesse algum viajante na estalagem, uma espécie de desvão em que por mais de uma vez passara a noite como se dormisse na melhor cama. Esse desvão ficava separado da sala comum do rés-do-chão da estalagem apenas por um tabique de madeira, no qual, em nossa intenção, tinham sido abertos buracos a fim de, através deles, espreitarmos o momento oportuno de darmos a saber a nossa presença nas imediações. Contava, se Caderousse estivesse sozinho, preveni-lo da minha chegada, acabar em casa dele a refeição interrompida pelo aparecimento dos guardas-fiscais e aproveitar a tempestade que se avizinhava para voltar às margens do Ródano e verificar o que acontecera à barca e aos que lá tinham ficado. Esgueirei-me portanto para o desvão, e fiz bem, pois nesse mesmo momento Caderousse entrava no estabelecimento com um desconhecido.

«Fiquei quieto e esperei, não com a intenção de surpreender os segredos do meu hospedeiro, mas sim porque não podia fazer outra coisa.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069