O Conde de Monte Cristo - Cap. 46: O crédito ilimitado Pág. 460 / 1080

- Não é uma palavra francesa?... Compreende, a carta foi escrita por anglo-alemães.

- Oh, certamente, senhor! No tocante à sintaxe não há nada a dizer, mas o mesmo não acontece no tocante à contabilidade.

- Porventura a Casa Thomson & French não é perfeitamente segura, na sua opinião, Sr. Barão? - perguntou Monte-Cristo com o ar mais ingénuo que conseguiu arranjar. - Diabo, isso contrariar-me-ia, pois tenho alguns fundos colocados nela!

- Oh, é perfeitamente segura - respondeu Danglars, com um sorriso quase zombeteiro. - Mas o sentido da palavra ilimitado, em matéria de finanças, é tão vago...

- Que é ilimitado, não é verdade? - concluiu Monte-Cristo.

- Era precisamente isso que queria dizer, senhor. O vago é duvidoso, e lá diz o ditado: «Na dúvida, abstém-te.»

- O que significa - prosseguiu Monte-Cristo - que se a Casa Thomson & French está disposta a cometer loucuras, a Casa Danglars não quer seguir-lhe o exemplo.

- Como assim, Sr. Conde?

- Sim, sem dúvida. Os Srs. Thomson & French negoceiam sem fixar os limites do seu crédito, mas o Sr. Danglars tem um limite para o seu; é um homem sensato, como há pouco dizia.

- Senhor - respondeu orgulhosamente o banqueiro -, ainda ninguém recorreu em vão à minha caixa!

- Nesse caso - redarguiu friamente Monte-Cristo -, parece que serei eu o primeiro.

- Quem lhe disse isso?

- As explicações que me pode, senhor, e que se assemelham muito a hesitações...

Danglars mordeu os lábios.

Era a segunda vez que era batido por aquele homem, e desta vez no seu terreno. A sua cortesia zombeteira era apenas afectada e raiava quase a impertinência.

Monte-Cristo, pelo contrário, sorria com a maior descontracção deste mundo e possuía, quando queria, um certo ar ingénuo que lhe dava muitas vantagens.

- Enfim, senhor - disse Danglars, após um momento de silêncio -, vou tentar fazer-me compreender, pedindo-lhe que fixe pessoalmente a quantia que conta levantar do meu banco.

- Mas, senhor - redarguiu Monte-Cristo, decidido a não perder uma polegada de terreno na discussão -, se pedi um crédito ilimitado sobre o senhor, foi precisamente por não saber de que dinheiro precisaria.

O banqueiro julgou chegado, finalmente, o momento de atacar a fundo. Recostou-se na sua cadeira e disse, com um sorriso grosseiro e orgulhoso:

- Oh, senhor, não tenha medo de pedir! Poderá então convencer-se de que o crédito da Casa Danglars, por muito limitado que seja, pode satisfazer as maiores exigências. Mesmo que pedisse um milhão...

- Como? - perguntou Monte-Cristo.

- Disse que mesmo que pedisse um milhão - repetiu Danglars com a arrogância da estupidez.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069