O Conde de Monte Cristo - Cap. 46: O crédito ilimitado Pág. 461 / 1080

- E que faria eu com um milhão? - perguntou o conde. – Meu Deus, senhor, se se tratasse apenas de um milhão não estaria aqui! Não me incomodaria a abrir um crédito por semelhante miséria! Um milhão? Mas se trago sempre um milhão na carteira ou no meu estojo de viagem! E Monte-Cristo tirou de uma agendazinha onde trazia os cartões de visita duas ordens de pagamento de quinhentos mil francos cada uma, pagáveis ao portador, sobre o Tesouro.

Um homem como Danglars devia ser desancado e não espicaçado. A bordoada produziu o seu efeito: o banqueiro cambaleou e sentiu vertigens. Depois, pousou em Monte-Cristo dois olhos embrutecidos e com as pupilas horrivelmente dilatadas.

- Vamos - disse Monte-Cristo -, confesse que desconfia da Casa Thomson & French... Meu Deus, é muito simples! Previ o caso e, apesar de não perceber nada de negócios, tomei as minhas precauções. Aqui estão portanto mais duas cartas idênticas à que lhe foi endereçada. Uma é da Casa Arestein & Eskoles, de Viena, sobre o Sr. Barão de Rothschild, e a outra é da Casa Baring, de Londres, sobre o Sr. Laff'tte. Diga-me uma só palavra, senhor, e livrá-lo-ei de qualquer preocupação, dirigindo-me a uma ou a outra destas duas casas.

Pronto, Danglars estava vencido. Abriu, visivelmente trémulo, a carta de Viena e a carta de Londres, que o conde lhe estendia com a ponta dos dedos, e verificou a autenticidade das assinaturas com uma minúcia que seria insultante para Monte-Cristo se não fizesse parte da estupefacção do banqueiro.

- Oh, senhor, estão aqui três assinaturas que valem muitos milhões - declarou Danglars, levantando-se como que para cumprimentar o poder do ouro personificado naquele homem que tinha diante de si. - Três créditos ilimitados sobre as nossas casas! Perdoe-me, Sr. Conde, mas, embora deixando de ser desconfiado, ainda estou atónito.

- Bom, não é caso para uma casa como a sua se surpreender assim - declarou Monte-Cristo, com toda a urbanidade. - Pode portanto abonar-me algum dinheiro, não é verdade?

- Fale, Sr. Conde, estou às suas ordens.

- Bom - prosseguiu Monte-Cristo -, agora que já nos conhecemos... Porque nos entendemos, não é verdade?

Danglars acenou afirmativamente com a cabeça.

- E já não tem nenhuma desconfiança? - continuou Monte-Cristo.

- Oh, Sr. Conde, nem nunca tive! - exclamou o banqueiro.

- Pois não, desejava apenas uma prova e mais nada. Bom, agora que já nos entendemos - repetiu o conde -, agora que já não tem nenhuma desconfiança, fixemos, se assim o deseja, uma importância geral para o primeiro ano: seis milhões, por exemplo.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069