O Conde de Monte Cristo - Cap. 47: A parelha pigarça Pág. 468 / 1080

O conde pedia-lhe licença para tornar a baronesa beneficiára daquele capricho de milionário e solicitava-lhe que desculpasse as maneiras orientais que acompanhavam a restituição dos cavalos. À noite, Monte-Cristo partiu para Auteuil acompanhado de Ali.

No dia seguinte, por volta das três horas, Ali, chamado por um toque de campainha, entrou no gabinete do conde.

- Ali, têm-me falado muitas vezes da tua perícia a lançar o laço...

Ali fez sinal que sim e endireitou-se orgulhosamente.

- Muito bem... Serias capaz de apanhar um boi com o laço?

Ali acenou que sim com a cabeça.

- E um tigre?

Ali fez o mesmo sinal.

- E um leão?

Ali simulou o gesto de um homem que lança o laço e imitou um rugido estrangulado.

- Muito bem! Compreendo - disse Monte-Cristo. - Caçaste leões?

Ali acenou com a cabeça, orgulhoso.

- Mas serias capaz de deter na corrida dois cavalos que tivessem tomado o freio nos dentes? Ali sorriu.

- Nesse caso, escuta - disse-lhe Monte-Cristo. - Daqui a pouco passará uma carruagem puxada por dois cavalos pigarços, os mesmos que eu tinha ontem. Ainda que tenhas de te deixar esmagar, tens de deter essa carruagem diante da minha porta.

Ali desceu à rua e traçou diante da porta uma linha na calçada; voltou a entrar e mostrou a linha ao conde, que o seguira com a vista.

O conde bateu-lhe suavemente no ombro; era a sua maneira de agradecer a Ali. Depois o núbio foi fumar o seu chibuque sentado no marco situado à esquina da casa e da rua, enquanto Monte-Cristo voltava para dentro sem se ocupar de mais nada.

No entanto, por volta das cinco horas, isto é, à hora em que o conde esperava a carruagem, poder-se-ia ver surgir nele os sinais quase imperceptíveis de uma ligeira impaciência.

Passeava numa sala que dava para a rua, apurava o ouvido a intervalos e de vez em quando aproximava-se da janela, através da qual via Ali soltar baforadas de fumo de tabaco com uma regularidade indicadora de que o núbio estava todo entregue àquela importante ocupação.

De súbito, ouviu-se um rodar distante, mas que se aproximava com a rapidez do raio. Em seguida apareceu uma caleça, cujo cocheiro procurava inutilmente deter os cavalos, que avançavam furiosos, eriçados, saltando como se tivessem enlouquecido. Na caleça, uma mulher nova e um garoto de sete a oito anos, abraçados, tinham perdido, devido ao excessivo terror, até a força para gritar. Bastaria uma pedra debaixo de uma roda ou uma árvore baixa para fazer a carruagem em fanicos, a qual já estalava por todas as juntas.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069