O Conde de Monte Cristo - Cap. 47: A parelha pigarça Pág. 469 / 1080

A viatura ocupava o meio da calçada e ouviam-se na rua os gritos de terror dos que a viam passar.

De súbito, Ali pousou o chibuque, tirou da algibeira o laço, lançou-o e envolveu numa volta tripla as pernas da frente do cavalo da esquerda. Deixou-se arrastar três ou quatro passos pela violência do impulso, mas ao cabo desses três ou quatro passos o cavalo laçado caiu sobre o varal, que partiu, e paralisou os esforços do cavalo que ficara de pé para continuar a corrida. O cocheiro aproveitou a oportunidade para saltar do seu lugar. Mas já Ali agarrara com os seus dedos de ferro as narinas do segundo cavalo, e o animal, relinchando de dor, caía convulsivamente junto do companheiro.

Tudo isto se passou no tempo que uma bala leva a atingir o alvo.

No entanto, foi quanto bastou para que da casa defronte da qual se dera o acidente um homem saísse a correr, seguido de vários criados. No momento em que o cocheiro abriu a portinhola, retirou da caleça a dama, que com uma das mãos se agarrava à almofada, enquanto com a outra apertava ao peito o filho desmaiado. Monte-Cristo levou ambos para a sala, e deitou-os num canapé.

- Nada mais receie, minha senhora - disse. - Está salva.

A mulher voltou a si, e como resposta indicou-lhe o filho com um olhar mais eloquente do que todas as súplicas. Com efeito, o garoto continuava desmaiado.

- Sim, minha senhora, compreendo - disse o conde, examinando o pequeno. - Mas esteja descansada que não lhe aconteceu nada.

Foi apenas o medo que o pôs assim.

- Oh, senhor, não me diz isso só para me tranquilizar? - perguntou a mãe. - Veja como está pálido! Meu filho, meu menino, meu Edouard, responde à tua mãe! Ah, senhor, mande chamar um médico. A minha fortuna a quem me restitua o meu filho!

Monte-Cristo fez um gesto com a mão para acalmar a mãe lavada em lágrimas, abriu um cofrezinho do qual tirou um frasco de cristal da Boémia incrustado de ouro contendo um licor vermelho como sangue e de que deixou cair uma única gota nos lábios da criança.

O garoto, embora continuasse pálido, abriu imediatamente os olhos.

Ao ver isso, a mãe quase delirou de alegria.

- Onde estou? - quis saber. - A quem devo tamanha felicidade depois de tão cruel experiência?

- Minha senhora - respondeu Monte-Cristo -, está em casa do homem mais feliz do mundo por ter podido poupar-lhe um desgosto.

- Oh, maldita curiosidade? - exclamou a dama. - Toda a gente em Paris falava dos magníficos cavalos da Sr.ª Danglars e tive a loucura de os querer experimentar.

- Como, aqueles cavalos são os da baronesa?! - perguntou o conde, com uma surpresa admiravelmente simulada.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069