O Conde de Monte Cristo - Cap. 51: Píramo e Tisbe Pág. 501 / 1080

Aparentemente, e aos olhos de toda a gente, todos são bons e afectuosos para comigo; mas na realidade todos me são hostis. As pessoas dizem: «O Sr. de Villefort é demasiado grave e severo para ser terno com a filha, mas ela teve ao menos a felicidade de encontrar na Sr.ª de Villefort uma segunda mãe.» Pois as pessoas enganam-se: o meu pai abandona-me com indiferença e a minha madrasta odeia-me com um encarniçamento tanto mais terrível quanto é certo ser disfarçado por um eterno sorriso.

- Odiá-la? A si, Valentine! Como podem odiá-la?

- Infelizmente, meu amigo - respondeu Valentine -, sou forçada a confessar que esse ódio por mim provém de um sentimento quase natural. Ela adora o filho, o meu irmão Edouard.

- E então?

- Então? Talvez seja estranho meter no caso uma questão de dinheiro... No entanto, meu amigo, creio que o seu ódio provém pelo menos daí. Como ela não tem fortuna do seu lado e eu já sou rica por parte da minha mãe, e a minha fortuna será ainda mais do que duplicada pela do Sr. e da Sr.ª de Saint-Méran, que me deve caber um dia, bom... julgo que ela tem inveja. Oh, meu Deus, se lhe pudesse dar metade dessa fortuna e sentir-me junto do Sr. de Villefort como uma filha em casa do seu pai, fá-lo-ia imediatamente, pode ter a certeza!

- Pobre Valentine!

- Sim, sinto-me acorrentada e ao mesmo tempo tão fraca que me parece ser amparada por esses laços e tenho medo de os quebrar. De resto, o meu pai não é homem cujas ordens se possam infringir impunemente: usaria o seu poder contra mim, como o usaria contra si, Maximilien, e como o usaria contra o próprio rei, protegido como está por um passado inatacável e por uma posição quase intocável. Oh, Maximilien, juro-lhe que se não luto é porque receio que seja despedaçado como eu nessa luta!

- Mas, enfim, Valentine - insistiu Maximilien -, porque desesperar assim e ver o futuro sempre negro?

- Ah, meu amigo, porque o avalio pelo passado!

- Vejamos: se não sou um partido ilustre do ponto de vista aristocrático, pertenço no entanto, sob muitos aspectos, ao meio em que a Valentine vive. O tempo em que havia duas Franças em França já lá vai; as mais nobres famílias da monarquia uniram-se às famílias do Império. A aristocracia da lança desposou a nobreza do canhão. Eu pertenço a esta última. Tenho um excelente futuro no Exército e possuo uma pequena fortuna, mas independente; por último, a memória do meu pai é venerada na nossa terra como a de um dos mais honestos comerciantes que jamais existiram. Digo «nossa terra», Valentine, porque é quase de Marselha.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069