A possibilidade de Mademoiselle Louise de Armilly, assim se chamava a jovem artista, entrar um dia para o teatro fazia com que Mademoiselle Danglars, embora a recebesse em sua casa, se não mostrasse em público na sua companhia. De resto, sem ter em casa do banqueiro a posição independente de uma amiga, Louise tinha uma posição superior à das vulgares professoras.
Poucos segundos depois da entrada da Sr.ª Danglars no seu camarote, o pano descera, e graças à faculdade, permitida pelo tamanho dos intervalos, de as pessoas poderem passear no foyer ou fazerem visitas durante meia hora, a plateia desguarnecera-se pouco a pouco.
Morcerf e Château-Renaud tinham sido os primeiros a sair. Por um momento, a Sr.ª Danglars pensara que a pressa de Albert tinha como finalidade vir apresentar-lhe os seus cumprimentos, e inclinara-se ao ouvido da filha para lhe anunciar a visita.
Mas a jovem limitara-se a abanar a cabeça sorrindo. E ao mesmo tempo, como que para provar até que ponto a denegação de Eugénie era fundada, Morcerf apareceu num camarote de primeira ordem. Esse camarote era o da condessa G...
- Ah, ei-lo, Sr. Viajante! - exclamou a condessa, estendendo-lhe a mão com toda a cordialidade de uma velha amiga. - Foi muito amável da sua parte ter-me reconhecido e sobretudo ter-me dado a preferência para a sua primeira visita.
- Creia, minha senhora - respondeu Albert -, que se tivesse sabido da sua chegada a Paris e conhecesse a sua morada, não teria esperado até tão tarde. Mas permita-me que lhe apresente o Sr. Barão de Château-Renaud, meu amigo, um dos raros gentis-homens, que ainda restam em França e por quem acabo de saber que a senhora esteve nas corridas do Campo de Marte.
Château-Renaud cumprimentou.
- Ah, o senhor esteve nas corridas? - disse vivamente a condessa.
- Estive, sim, minha senhora.
- Nesse caso - prosseguiu, não menos vivamente, a Sr.ª G... -, poderá dizer-me a quem pertencia o cavalo que ganhou o prémio do Jockey-Club?
- Não, minha senhora - respondeu Château-Renaud -, e ainda há pouco fazia a mesma pergunta ao Albert.
- Tem muito interesse nisso, Sr.ª Condessa? - perguntou Albert.
- Em quê?
- Em conhecer o dono do cavalo.
- Infinito. Imagine... Mas será por acaso o senhor, visconde?
- Minha senhora, ia contar uma história: «Imagine...» começou.