Baptistin saiu.
- Na verdade - disse o lucano -, estou a dar-lhe tanto incómodo que me sinto constrangido...
- Não tem importância! - redarguiu Monte-Cristo.
Baptistin regressou com os copos, o vinho e os biscoitos.
O conde encheu um copo e deitou no segundo apenas algumas gotas do líquido cor de rubi que continha a garrafa, toda coberta de teias de aranha e doutros sinais que indicavam a velhice do vinho muito mais seguramente do que as rugas no homem.
O major não se enganou ao tirar o copo; pegou no que estava cheio e serviu-se de um biscoito.
O conde ordenou a Baptistin que deixasse a bandeja ao alcance da mão do seu hóspede, que começou por saborear o alicante com a ponta dos lábios, fez uma careta de satisfação e meteu delicadamente o biscoito no copo.
- Portanto, senhor - disse Monte-Cristo -, reside em Luca, é rico, é nobre, goza da consideração geral e possui tudo o que pode fazer um homem feliz.
- Tudo, Excelência - admitiu o major, engolindo o seu biscoito. - Absolutamente tudo.
- E só faltava uma coisa para a sua felicidade?
- É verdade, só uma - respondeu o lucano.
- Encontrar o seu filho?
- Sim, também me faltava isso! - exclamou o major, tirando segundo biscoito.
O digno lucano levantou os olhos ao Céu e fez um esforço para suspirar.
- Vejamos agora uma coisa, meu caro Sr. Cavalcanti - disse Monte-Cristo. - De quem era esse filho tão chorado? Porque me disseram que o senhor era solteiro...
- Era o que se julgava, senhor - respondeu o major -, e eu próprio...
- Sim - prosseguiu Monte-Cristo -, e o senhor próprio acreditara nesse boato. Um pecado da juventude que ocultou a todos os olhos.
O lucano endireitou-se, tomou o seu ar mais calmo e mais digno e baixou ao mesmo tempo modestamente os olhos, quer para manter a sua atitude, quer para ajudar a sua imaginação ou observar por baixo o conde, cujo sorriso estereotipado nos lábios manifestava sempre a mesma benevolente curiosidade.
- É verdade, senhor, desejava ocultar essa falta a todos os olhos.
- Não por si, claro - observou Monte-Cristo -, porque um homem está acima dessas coisas.
- Oh, não por mim, certamente! - reconheceu o major, sorrindo e abanando a cabeça.
- Mas pela mãe do seu filho - disse o conde.
- Sim, pela sua mãe! - exclamou o lucano, tirando terceiro biscoito. - Pela sua pobre mãe!
- Beba, caro Sr. Cavalcanti - disse Monte-Cristo, deitando ao lucano segundo copo de alicante. - A comoção sufoca-o.