- Vão-me encarcerar lá? - continuou Dantès. - Mas o Castelo de If é uma prisão de Estado destinada apenas aos grandes criminosos políticos. Ora, eu não cometi nenhum crime. No Castelo de If existem, porventura, juízes de instrução ou quaisquer outros magistrados?
- Suponho que só existe um governador, carcereiros, uma guarnição e bons muros. Vamos, vamos, amigo, não mostre tanto espanto; porque na verdade far-me-ia supor que retribui a minha condescendência troçando de mim.
Dantès apertou a mão do gendarme como se lha quisesse partir.
- Pretende - insistiu - que me conduzem ao Castelo de If para lá me encerrar?
- É provável - respondeu o gendarme. - Seja como for, camarada, é inútil apertar-me a mão com tanta força.
- Sem mais investigações, sem mais formalidades? - perguntou o jovem.
- As formalidades estão preenchidas e as investigações concluídas.
- Assim, apesar da promessa do Sr. de Villefort?...
- Não sei se o Sr. de Villefort lhe fez alguma promessa - redarguiu o gendarme -, mas o que sei é que vamos para o Castelo de If. Eh, lá, que está a fazer?! A mim, camaradas, a mim!
Num gesto rápido como um relâmpago, mas que no entanto fora previsto pelo olhar experiente do gendarme, Dantès quisera lançar-se ao mar. Mas quatro mãos vigorosas seguraram-no no momento em que os seus pés deixavam o fundo do barco e fizeram-no cair dentro dele bramindo de raiva.
- Ora aí está! - exclamou o gendarme, pondo-lhe um joelho no peito. - Ora aí está como cumpre a sua palavra de marinheiro. Vamo-nos lá fiar em gente de falinhas mansas... Pois agora, meu caro amigo, se fizer um movimento, um só, meto-lhe uma bala na cabeça. Não cumpri a minha primeira ordem, mas garanto-lhe que cumprirei a segunda.
E baixou efetivamente a carabina na direção de Dantès, que sentiu encostar-se-lhe a ponta do cano à têmpora.
Por um instante sentiu a tentação de fazer o movimento proibido e de acabar assim, violentamente, com a desgraça inesperada que se abatera sobre ele e o tomara de súbito nas suas garras de abutre. Mas precisamente por essa desgraça ser inesperada, Dantès pensou que não podia ser duradoura.
Depois, acudiram-lhe ao espírito as promessas do Sr. De Villefort; por último, forçoso é dizê-lo, a morte no fundo de um barco, dada pela mão de um gendarme, pareceu-lhe indecorosa e indigna.
Deixou-se cair no fundo do barco, soltando um bramido de raiva e mordendo as mãos com furor.
Quase no mesmo instante um choque violento sacudiu o escaler.