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Capítulo 67: No gabinete do Procurador Régio

Página 640
Não foi por acaso que mandou cavar a terra? Finalmente não foi por acaso que a infeliz criança foi enterrada debaixo das árvores? Pobre criatura saída de mim, à qual nunca pude dar um beijo, mas a quem tenho dado muitas lágrimas. Ah, todo o meu coração voou ao encontro do conde quando ele falou do querido despojo debaixo das flores!

- Não, minha senhora, e é isso que tenho de terrível para lhe dizer - redarguiu Villefort com a voz estrangulada -; não, não houve despojo encontrado debaixo das flores; não, não houve criança desenterrada; não, é inútil chorar; não, é inútil gemer, não, o que devemos é tremer!

- Que quer dizer, senhor? - perguntou a Sr.ª Danglars, muito agitada.

- Quero dizer que o Sr. de Monte-Cristo não pôde encontrar, ao cavar ao pé das árvores, nem esqueleto de criança, nem ferragem de cofre, porque debaixo das árvores não havia nem um nem outra.

- Não havia nem um nem outra?! - repetiu a Sr.ª Danglars, cravando no procurador régio uns olhos cujas pupilas, horrivelmente dilatadas, indicavam terror.

- Não havia nem um nem outra! - repetiu mais uma vez, como uma pessoa que procura fixar pelo som das palavras e pelo ruído da voz as ideias prestes a fugir-lhe.

- Não! - insistiu Villefort, deixando cair a fronte nas mãos.

- Não, cem vezes não!...

- Mas não foi ali que sepultou a pobre criança, senhor? Porque me enganou? Com que fim, diga-me!

- Tem razão. Mas ouça-me, minha senhora, ouça-me, e verá que me lamenta, a mim que trouxe durante vinte anos às costas, sem nunca lhe pedir que carregasse com a mais pequena parte, o fardo de dores de que lhe vou falar.

- Meu Deus, o senhor assusta-me! Mas não importa; fale, escuto-o.

- Sabe o que se passou naquela noite dolorosa em que a senhora expirava no seu leito, naquele quarto de damasco vermelho, enquanto eu, quase tão arquejante como a senhora, esperava que desse à luz. A criança nasceu, foi-me entregue sem movimentos, sem respiração e sem voz, e julgámo-la morta.

A Sr.ª Danglars fez um gesto rápido, como se quisesse saltar da cadeira. Mas Villefort deteve-a juntando as mãos, como que para lhe implorar atenção.

- Julgámo-la morta - repetiu. - Meti-a num cofre, que deveria substituir o caixão, desci ao jardim, abri uma cova e enterrei-a precipitadamente. Mal acabara de cobrir a sepultura de terra quando o braço do corso se estendeu para mim. Vi como que uma sombra erguer-se, como que reluzir um relâmpago. Senti uma dor, quis gritar, um arrepio gelado percorreu-me todo o corpo e apertou-me a garganta... Caí moribundo e julguei-me assassinado.

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Capa do livro O Conde de Monte Cristo
Páginas: 1080
Página atual: 640

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Marselha - A Chegada 1
O pai e o filho 8
Os Catalães 14
A Conspiração 23
O banquete de noivado 28
O substituto do Procurador Régio 38
O interrogatório 47
O Castelo de If 57
A festa de noivado 66
Os Cem Dias 89
O número 34 e o número 27 106
Um sábio italiano 120
A cela do abade 128
O Tesouro 143
O terceiro ataque 153
O cemitério do Castelo de If 162
A Ilha de Tiboulen 167
Os contrabandistas 178
A ilha de Monte-Cristo 185
Deslumbramento 192
O desconhecido 200
A Estalagem da Ponte do Gard 206
O relato 217
Os registos das prisões 228
Acasa Morrel 233
O 5 de Stembro 244
Itália - Simbad, o marinheiro 257
Despertar 278
Bandidos Romanos 283
Aparição 309
A Mazzolata 327
O Carnaval de Roma 340
As Catacumbas de São Sebastião 356
O encontro 369
Os convivas 375
O almoço 392
A apresentação 403
O Sr. Bertuccio 415
A Casa de Auteuil 419
A vendetta 425
A chuva de sangue 444
O crédito ilimitado 454
A parelha pigarça 464
Ideologia 474
Haydée 484
A família Morrel 488
Píramo e Tisbe 496
Toxicologia 505
Roberto, o diabo 519
A alta e a baixa 531
O major Cavalcanti 540
Andrea Cavalcanti 548
O campo de Luzerna 557
O Sr. Noirtier de Villefort 566
O testamento 573
O telégrafo 580
Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588
Os fantasmas 596
O jantar 604
O mendigo 613
Cena conjugal 620
Projetos de casamento 629
No gabinete do Procurador Régio 637
Um baile de Verão 647
As informações 653
O baile 661
O pão e o sal 668
A Sra. de Saint-Méran 672
A promessa 682
O jazigo da família Villefort 705
A ata da sessão 713
Os progressos de Cavalcanti filho 723
Haydée 732
Escrevem-nos de Janina 748
A limonada 762
A acusação 771
O quarto do padeiro reformado 776
O assalto 790
A mão de Deus 801
Beauchamp 806
A viagem 812
O julgamento 822
A provocação 834
O insulto 840
A Noite 848
O duelo 855
A mãe e o filho 865
O suicídio 871
Valentine 879
A confissão 885
O pai e a filha 895
O contrato 903
A estrada da Bélgica 912
A estalagem do sino e da garrafa 917
A lei 928
A aparição 937
Locusta 943
Valentine 948
Maximilien 953
A assinatura de Danglars 961
O Cemitério do Père-lachaise 970
A partilha 981
O covil dos leões 994
O juiz 1001
No tribunal 1009
O libelo acusatório 1014
Expiação 1021
A partida 1028
O passado 1039
Peppino 1049
A ementa de Luigi Vampa 1058
O Perdão 1064
O 5 de Outubro 1069