- Em todo o caso - respondeu a Sr.ª Danglars -, admita que, se cometi uma falta, essa falta foi pessoal e por ela fui severamente castigada a noite passada.
- Pobre mulher! - murmurou Villefort, apertando-lhe a mão. - Demasiado severamente para a sua energia, pois por duas vezes esteve quase a sucumbir, e no entanto...
- O quê?
- Bom, devo dizer-lhe ... Apele para toda a sua coragem, minha senhora, porque ainda não chegou ao fim.
- Meu Deus! - exclamou a Sr.ª Danglars, aterrada. - Que mais há ainda?
- A senhora só vê o passado, e claro que ele é sombrio. Pois imagine um futuro ainda mais sombrio, um futuro... horrível, certamente... e talvez sangrento!
A baronesa conhecia a calma de Villefort. Por isso, ficou tão apavorada com a sua exaltação que abriu a boca para gritar, mas o grito morreu-lhe na garganta.
- Como ressuscitou esse passado terrível? - disse Villefort. - Como saiu como um fantasma do fundo da sepultura e do fundo dos nossos corações, onde dormia, para nos fazer empalidecer as faces e corar a fronte?
- Infelizmente, sem dúvida, por acaso - declarou Hermine.
- Por acaso! - repetiu Villefort. - Não, não, minha senhora, não se trata de obra do acaso!
- Claro que trata. Não foi o acaso, fatal é certo, mas de qualquer maneira o acaso, que originou tudo aquilo? Não foi por acaso que o conde de Monte-Cristo comprou aquela casa.