Já o dissemos: o conde, quer por prestígio fictício, quer por prestígio natural, atraía a atenção em toda a parte onde se apresentava. Não era a sua casaca preta, de corte impecável, é certo, mas simples e sem condecorações; não era o seu colete branco sem qualquer bordadura; não eram as suas calças, que se ajustavam a um pé da forma mais delicada, que atraíam a atenção: eram a sua tez mate, o seu cabelo preto, ondulado, era o seu rosto calmo e puro, era o seu olhar profundo e melancólico, era finalmente a sua boca desenhada com uma delicadeza maravilhosa, e que adquiria facilmente a expressão de um alto desdém, que levavam todos os olhos a fixarem-se nele.
Poderia haver homens mais belos, mas não os havia, sem dúvida, mais significativos, passe a expressão. Tudo no conde queria dizer qualquer coisa e tinha o seu valor; porque o hábito do pensamento útil dera às suas feições, à expressão do seu rosto e ao mais insignificante dos seus gestos uma flexibilidade e uma firmeza incomparáveis.
No entanto, a nossa sociedade parisiense é tão estranha que ele talvez não tivesse despertado a atenção por tudo isso se debaixo de tudo isso não houvesse uma história misteriosa dourada por uma imensa fortuna.
Como quer que fosse, adiantou-se sob o peso dos olhares e, trocando pelo caminho breves cumprimentos, até à Sr.ª de Morcerf, que de pé diante da chaminé guarnecida de flores o vira aparecer num espelho colocado defronte da porta e se preparava para o receber.
Virou-se portanto para ele com um sorriso grave precisamente no momento em que Monte-Cristo se inclinava diante dela.
A condessa supôs, sem dúvida, que o conde lhe dirigiria a palavra, e pela sua parte ele também imaginou, sem dúvida, que ela lhe falaria; mas ambos ficaram mudos, de tal forma uma banalidade lhes pareceu, decerto, indigna deles. E após uma troca de cumprimentos, Monte-Cristo dirigiu-se para Albert, que vinha ao seu encontro de mão aberta.
- Viu a minha mãe? - perguntou Albert.
- Acabo de ter a honra de a cumprimentar - respondeu conde -, mas ainda não vi o seu pai.
- Olhe, conversa de política ali, naquele grupinho de grandes celebridades.
- Na verdade aqueles cavalheiros são celebridades? - admirou-se Monte-Cristo. - Nunca o suporia! E de que género? Há celebridades de toda a espécie, como sabe.
- Em primeiro lugar, um sábio, aquele cavalheiro alto e magro: descobriu na campina de Roma uma espécie de lagarto que tem mais uma vértebra do que os outros e essa descoberta valeu-lhe fazer parte do Instituto. A coisa foi durante muito tempo contestada, mas enfim o cavalheiro alto e magro levou a melhor. A vértebra causara grande alvoroço no mundo científico.