O Conde de Monte Cristo - Cap. 9: A festa de noivado Pág. 69 / 1080

Se naquele momento a suave voz de Renée lhe tivesse soado aos ouvidos pedindo-lhe compaixão; se a bela Mercédès tivesse entrado e lhe tivesse dito: «Em nome de Deus que nos vê e nos julga, restitua-me o meu noivo»; sim, aquela fronte que as circunstâncias inclinavam até meio ter-se-ia curvado por completo e as mãos geladas daquele homem teriam sem dúvida, com risco de tudo o que daí pudesse resultar para ele, assinado o mandado de soltura de Dantès. Mas nenhuma voz murmurou no silêncio e a porta só se abriu para entrar o criado de quarto de Villefort, que lhe veio dizer que os cavalos de posta já estavam atrelados à caleça de viagem.

Villefort levantou-se, ou antes, saltou como um homem que vence uma luta intima, correu para a secretária, meteu nas algibeiras todo o ouro que se encontrava numa gaveta, andou um instante sobressaltado, pelo aposento, com a mão na testa e proferindo palavras sem sentido, e por fim, sentindo que o criado acabava de lhe pôr a capa pelos ombros, saiu, meteu-se na carruagem e ordenou com voz breve ao cocheiro que seguisse para a Rua do Grand- Cours, para casa do Sr. de Saint-Méran. O pobre Dantès estava condenado.

Como o Sr. de Saint-Méran lhe prometera, Villefort encontrou a marquesa e Renée no gabinete. Ao ver Renée, o jovem estremeceu, pois julgou que ela lhe fosse pedir de novo a liberdade de Dantès. Mas, ai de nós, devemos confessá-lo para vergonha do nosso egoísmo, a linda rapariga estava preocupada com uma coisa: a partida de Villefort

Amava Villefort e Villefort partia no momento de se tornar seu marido. Villefort não podia dizer quando voltaria e Renée, em vez de lamentar Dantès, amaldiçoou o homem que devido ao seu crime a separava do amado.

E Mercédès?

A pobre Mercédès encontrara Fernand, que a seguira, à esquina da Rua de Loge, regressara aos Catalães e, com a morte na alma, desesperada, atirara-se para cima da cama.

Fernand ajoelhara diante dessa cama e, apertando a mão gelada de Mercédès, que esta não se lembrava de retirar, cobria-lha de beijos ardentes que Mercédès nem sequer sentia.

A jovem passou a noite assim. O candeeiro apagou-se quando o azeite se acabou, mas Mercédès não deu mais pela obscuridade do que dera pela luz e o dia voltou sem que desse por ele. A dor pusera-lhe diante dos olhos uma venda que só a deixava ver Edmond.

- Ah, estás aí!... - disse por fim, virando-se para o lado de Fernand.

- Desde ontem que te não deixo - respondeu Fernand, com um suspiro doloroso.

O Sr. Morrel dera-se por vencido. Soubera que depois do seu interrogatório Dantès fora levado para a prisão.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069