- Assistiu à agonia? - perguntou o Sr. de Avrigny.
- Assisti - respondeu o procurador régio. - O senhor disse-me em voz baixa para não me afastar.
- Notou os sintomas do mal a que a Sr.ª de Saint-Méran sucumbiu?
- Certamente. A Sr.ª de Saint-Méran teve três ataques sucessivos com poucos minutos de intervalo uns dos outros e de cada vez mais próximos e mais graves. Quando o senhor chegou, havia já alguns minutos que a Sr.ª de Saint-Méran estava arquejante; teve então uma crise, que tomei por um simples ataque de nervos; mas só me comecei a assustar realmente quando a vi soerguer-se na cama, com os membros e o pescoço estendidos. Então, pela sua cara, doutor, compreendi que o caso era mais grave do que supunha. Passada a crise, procurei os seus olhos, mas já os não encontrei, doutor. O senhor segurava-lhe no pulso e contava as pulsações, e a segunda crise surgiu antes de o meu amigo se virar para mim. Essa segunda crise foi mais terrível do que a primeira. Verificaram-se os mesmos movimentos nervosos e a boca contraiu-se-lhe e tornou-se roxa. à terceira, expirou. Já depois do fim da primeira eu tinha reconhecido o tétano, e o senhor confirmou-me tal opinião.
- Sim, diante de toda a gente - salientou o médico. - Mas agora estamos sós.
- Que me vai dizer, meu Deus?
- Que os sintomas do tétano e do envenenamento por produtos vegetais são absolutamente os mesmos.
O Sr. de Villefort levantou-se. Em seguida, depois de um instante de imobilidade e silêncio, voltou a deixar-se cair no banco.
- Meu Deus, doutor, pensou bem no que acaba de me dizer?
Morrel não sabia se sonhava ou se estava acordado.
- Ouça - disse o médico - conheço a importância da minha declaração e o cargo do homem a quem a faço.
- É ao magistrado ou ao amigo que fala? - perguntou Villefort.
- Ao amigo, apenas ao amigo, neste momento. As semelhanças entre os sintomas do tétano e os sintomas do envenenamento por substâncias vegetais são de tal modo grandes que se tivesse de assinar o que lhe digo declaro-lhe que hesitaria. Por isso, repito-lhe, não é ao magistrado que me dirijo, é ao amigo. Pois bem, ao amigo digo: durante os três quartos de hora que durou, estudei a agonia, as convulsões e a morte da Sr.ª de Saint-Méran, e é minha convicção que não só a Sr.ª de Saint-Méran morreu envenenada, como ainda direi... sim, direi que conheço o veneno que a matou.
- Senhor, senhor!
- Tudo se conjuga, repare: sonolência interrompida por crises nervosas, sobreexcitação do cérebro, torpor dos centros... A Sr.ª de Saint-Méran. sucumbiu a uma dose violenta de brucina ou estricnina, que por acaso, sem dúvida, que por erro, talvez, lhe administraram.