O Conde de Monte Cristo - Cap. 77: Haydée Pág. 737 / 1080

- Meu caro anfitrião, e vós, signora - disse Albert em italiano -, desculpai a minha estupefacção. Estou completamente aturdido, como é natural. Eis-me no Oriente, no verdadeiro Oriente, infelizmente não tal como o vi, mas sim tal como o sonhei em Paris. Ainda há pouco tinha a sensação de ouvir passar o ónibus e tocar as campainhas dos vendedores de limonadas... Oh, signora, que pena eu não falar grego! A sua conversação, juntamente com este ambiente feérico, proporcionar-me-ia uma noite de que nunca mais me esqueceria.

- Falo bastante bem o italiano para falar consigo, senhor - respondeu tranquilamente Haydée. - E farei o possível, se gosta do Oriente, para que o reencontre aqui.

- De que posso falar? - perguntou baixinho Albert a Monte-Cristo.

- Mas de tudo o que quiser. Do seu país, da sua juventude, das suas recordações. Depois, se preferir, de Roma, de Nápoles ou de Florença.

- Oh, não valeria a pena estar diante de uma grega para lhe falar de tudo o que falaria a uma parisiense! - protestou Albert. - Deixe-me falar-lhe do Oriente.

- De facto, meu caro Albert, é a conversação que mais lhe agrada.

Albert virou-se para Haydée.

- Com que idade, signora, deixou a Grécia? - perguntou.

- Aos cinco anos - respondeu Haydée.

- E ainda se lembra da sua pátria?

- Quando fecho os olhos, revejo tudo o que vi. Há dois olhares: o olhar do corpo e o olhar da alma. O olhar do corpo pode às vezes esquecer, mas o da alma lembra-se sempre.

- E qual é o tempo mais distante de que se recorda?

- Mal andava. A minha mãe, que se chamava Vasiliki (Vasiliki quer dizer real) - acrescentou a jovem, erguendo a cabeça. - Aminha mãe pegava-me na mão e, ambas cobertas com um véu, depois de metermos na bolsa todo o ouro que possuíamos, íamos pedir esmola para os prisioneiros dizendo: «Quem dá aos pobres, empresta a Deus.» Depois, quando tínhamos a bolsa cheia, regressávamos ao palácio e, sem dizer nada ao meu pai, mandávamos todo o dinheiro que nos tinham dado, tomando-nos por pobres mulheres, ao superior do convento, que o distribuíaentre os prisioneiros.

- E nessa época que idade tinha?

- Três anos - respondeu Haydée.

- Então, lembra-se de tudo o que se passou à sua volta a partir dos três anos?

- De tudo.

- Conde - disse baixinho Morcerf a Monte-Cristo -, devia permitir à signora que nos contasse um pouco da sua história. Proibiu-me de lhe falar do meu pai, mas talvez ela me fale dele, e não imagina quão feliz seria ouvindo sair o seu nome de tão bonita boca.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069