- E não se lembra do nome desse francês? - perguntou Morcerf, pronto a ajudar a memória da narradora.
Monte-Cristo fez-lhe um sinal.
- Não, não me lembro - respondeu Haydée, que prosseguiu: - O barulho aumentava, ouviam-se passos cada vez mais próximos. Desciam os degraus do subterrâneo.
»Selim preparou a lança.
»Não tardou a aparecer uma sombra no crepúsculo azulado formado pelos raios do Sol que penetravam até à entrada do subterrâneo.
»- Quem és tu? - gritou Selim. - Mas sejas quem fores, não dês mais um passo.
»- Glória ao Sultão! - gritou o homem. - Foi concedido perdão completo ao vizir Ali. E não só tem a vida salva, como ainda lhe restituem a sua fortuna e os seus bens » A minha mãe soltou um grito de alegria e apertou-me ao coração.
»- Pára! - gritou-lhe Selim, vendo que ela corria já para a saída. - Bem sabes que me falta o anel.
»- Tens razão - concordou minha mãe, e ao mesmo tempo que cala de joelhos erguia-me para o céu, como se não lhe bastasse pedir a Deus por mim e quisesse ainda aproximar-me dele.
E Haydée deteve-se pela segunda vez, dominada por tal emoção que o suor lhe escorria da testa pálida e a voz estrangulada parecia não conseguir sair-lhe da garganta ressequida.
Monte-Cristo deitou um pouco de água gelada num copo e ofereceu-lho, ao mesmo tempo que dizia com uma doçura em que se notavam laivos de ordem:
- Coragem, minha filha!
Haydée limpou os olhos e a testa e continuou:
- Entretanto, os nossos olhos, habituados ao escuro, tinham reconhecido o enviado do paxá: era um amigo.
»Selim reconhecera-o, mas o corajoso rapaz só sabia uma coisa: obedecer!
»- Em nome de quem vens? - perguntou.
»- Venho em nome do nosso amo, Ali-Tebelin
»- Se vens em nome de Ali, sabes o que me deves entregar?
»- Sei e trago-te o seu anel - respondeu o enviado.
»Ao mesmo tempo, ergueu a mão acima da cabeça. Mas estava demasiado longe e não havia luz suficiente para que Selim pudesse, donde estávamos, distinguir e reconhecer o objecto que lhe apresentavam.
»- Não vejo o que tens na mão - disse Selim.
»- Aproxima-te ou aproximar-me-ei eu - sugeriu o mensageiro.
»- Nem um nem outro - respondeu o jovem soldado. - Põe aí onde estás e debaixo desse raio de luz o objecto que me mostras e retira-te até eu o ver.
»- Seja - disse o mensageiro.
»E retirou-se, depois de colocar o sinal de reconhecimento no lugar indicado.
»O nosso coração palpitava. Porque o objecto nos parecia ser efectivamente um anel. Mas seria o anel do meu pai?