O Conde de Monte Cristo - Cap. 78: Escrevem-nos de Janina Pág. 755 / 1080

- Que diabo está para aí a dizer?

- Meu caro, bato-me hoje.

- O senhor? E porquê?

- Porque sim!

- Está bem, mas por que motivo? As pessoas batem-se por mil e uma coisas, como sabe.

- Por uma questão de honra.

- Ah, então o caso é sério!

- Tão sério que lhe venho pedir que me faça um favor.

- Qual?

- O de ser minha testemunha.

- Então o caso é mais do que sério, é grave. Mas não falemos disso aqui e regressemos a minha casa. Ali, dá-me água.

O conde arregaçou as mangas e passou ao vestibulozinho que precede as linhas de tiro e onde os atiradores têm o hábito de lavar as mãos.

- Entre, Sr. Visconde, se quer ver uma coisa engraçada – disse Philippe em voz baixa.

Morcerf entrou. Em vez de alvos, encontravam-se coladas na placa cartas de jogar.

De longe, Morcerf julgou tratar-se de um naipe completo; havia desde o ás até ao dez.

- Ah, ah!... - exclamou Albert. - Estava a jogar ao piquet?

- Não - respondeu o conde -, estava a fazer um baralho de cartas.

- Como?...

- Sim. As que vê são ases e duques; as minhas balas é que fizeram os ternos, as quinas, os setes, os oitos, os noves e os dez.

Albert aproximou-se.

Com efeito, as balas tinham, em linhas perfeitamente exactas e a distâncias perfeitamente iguais, substituído os sinais ausentes e perfurado o cartão nos sítios onde deveriam ser pintados. Ao dirigir-se para a placa, Morcerf apanhou ainda duas ou três andorinhas que tinham cometido a imprudência de passar ao alcance da pistola do conde e que este abatera.

- Diabo!... - exclamou Morcerf

- Que quer, meu caro visconde - disse Monte-Cristo, limpando as mãos à toalha trazida por Ali -, tenho de ocupar os meus momentos de ociosidade... Mas venha, estou à sua espera.

Subiram ambos para o cupé de Monte-Cristo, que, poucos instantes depois, os depositou à porta do n.º 30.

Monte-Cristo levou Morcerf para o seu gabinete e indicou-lhe uma cadeira. Sentaram-se ambos.

- Agora, conversemos tranquilamente - disse o conde.

- Como vê, estou perfeitamente calmo.

- Com quem se quer bater?

- Com Beauchamp.

- Um dos seus amigos!

- É sempre com amigos que nos batemos.

- Pelo menos deve haver uma razão.

- Tenho uma.

- Que lhe fez ele?

- Um jornal de ontem à tarde... Mas tome, leia - e Albert estendeu a Monte-Cristo um jornal em que o conde leu o seguinte: «Escrevem-nos de Janina:

»Um facto até agora ignorado, ou pelo menos inédito, chegou ao nosso conhecimento: os castelos que defendiam a cidade foram entregues aos Turcos por um oficial francês no qual o vizir Ali-Tebelin depositava toda a sua confiança e que sechamava Fernand.»





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069