O Conde de Monte Cristo - Cap. 81: O quarto do padeiro reformado Pág. 785 / 1080

- Há um codicilo, como eu dizia há bocado!

- Provavelmente.

- E nesse codicilo...

- Reconhece-me.

- Oh, que bom pai, que rico pai, que pai honestíssimo! - exclamou Caderousse, fazendo girar no ar um prato que apanhou com as mãos.

- Vá, diz agora que ainda tenho segredos para ti!

- Não, e a tua confiança honra-te a meus olhos. E o teu príncipe, o teu pai, é rico, riquíssimo, não é?

- Julgo que sim. Nem sabe quanto tem.

- Será possível?

- Ora essa! Então eu não sei, que sou recebido em sua casa a toda a hora? Outro dia, um pagador bancário levou-me cinquenta mil francos numa pasta do tamanho da tua; ontem, foi um banqueiro que lhe levou cem mil francos em ouro... Caderousse estava atordoado. Parecia-lhe que as palavras do jovem tinham o som do metal e que ouvia rolar cascatas de luíses.

- E tu frequentas essa casa? - perguntou ingenuamente.

- Vou lá quando quero.

Caderousse ficou pensativo um instante. Era fácil ver que remoía no espírito qualquer pensamento profundo.

Depois, de súbito, gritou:

- Como eu gostaria de ver tudo isso! Como tudo isso deve ser belo!

- De facto, é - confirmou Andrea. - É magnífico!

- Ele não mora na Avenida dos Campos Elísios?

- Número trinta.

- Ah! - exclamou Caderousse. - Número trinta?

- Sim, uma bonita casa isolada entre pátio e jardim. Não conheces tu outra coisa.

- É possível. Mas não é o exterior que me interessa, é o interior. Belos móveis, hem? Que há lá dentro?

- Nunca viste as Tulherias?

- Não.

- Bom, é mais bonito.

- Diz-me uma coisa, Andrea: deve ser agradável um tipo baixar-se quando esse excelente Monte-Cristo deixa cair a bolsa...

- Oh, meu Deus, não vale a pena esperar que isso aconteça! - redarguiu Andrea. - O dinheiro abunda naquela casa como a fruta num pomar.

- Devias levar-me lá um dia contigo...

- Achas isso possível? E a que título?

- Tens razão. Mas fizeste-me vir a água à boca. É absolutamente necessário que eu veja isso; descobrirei um meio.

- Nada de asneiras, Caderousse!

- Apresentar-me-ei como encerador.

- Há tapetes por todo o lado.

- Que pena! Então, tenho de me contentar com ver isso em imaginação.

- É o melhor, acredita.

- Tenta ao menos descrever-me a casa.

- Como queres...

- Nada mais fácil. É grande?

- Nem demasiado grande nem demasiado pequena.

- Mas como está dividida?

- Demónio, precisaria de tinta e papel para fazer uma planta!

- Aqui os tens! - respondeu vivamente Caderousse.

E foi buscar a uma velha secretária uma folha de papel branco, tinta e uma pena.

- Toma, traça-me tudo isso no papel, meu filho – pediu Caderousse.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069