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Capítulo 83: A mão de Deus

Página 803

- Escuta - disse o abade, estendendo a mão por cima do ferido como se quisesse incutir-lhe a fé -, aqui tens o que fez por ti esse Deus que recusas reconhecer no teu último momento: dera-te a saúde, a força, um trabalho garantido, até amigos, a vida, enfim, tal como se deve apresentar ao homem para ser agradável, com a tranquilidade da consciência e a satisfação dos desejos naturais. Em vez de explorares essas dádivas do Senhor, tão raramente concedidas por Ele na sua plenitude, eis o que fizeste: entregaste-te à mandriice, à embriaguez, e na embriaguez atraiçoaste um dos teus melhores amigos.

- Socorro! - gritou Caderousse. - Não preciso de um padre, mas sim de um médico. Talvez não esteja ferido de morte, talvez não morra ainda, talvez me possam salvar!

- Estás tão ferido de morte que sem as três gotas de licor que te dei há pouco já terias morrido. Escuta, pois!

- Ah, que estranho padre me saiu, um padre que desespera os moribundos em vez de os confortar!... - murmurou Caderousse.

- Escuta - continuou o abade. - Quando atraiçoaste o teu amigo, Deus começou, não por te ferir, mas sim por te avisar. Caíste na miséria e tiveste fome; passaste a invejar a metade de uma vida que poderias ter passado a adquirir, e já pensavas no crime dando a ti mesmo a desculpa da necessidade quando Deus fez para ti um milagre, pelas minhas mãos, e te enviou ao seio da tua miséria uma fortuna notável, embora fosses um desgraçado que nunca tivera nada. Mas essa fortuna inesperada, súbita, inaudita, já não te bastou assim que a possuíste; quiseste duplicá-la. Por que meio? Por meio de um crime. Duplicaste-a e então Deus tirou-ta e levou-te perante a justiça humana.

- Não fui eu que quis matar o judeu, foi a Carconte - redarguiu Caderousse.

- Foste - respondeu Monte-Cristo. - Por isso Deus, sempre, não direi justo desta vez, porque a sua justiça ter-te-ia dado a morte, mas sempre misericordioso, permitiu que os teus juízes fossem tocados pelas tuas palavras e te poupassem a existência.

- Ora, ora! Para me condenarem a trabalhos forçados por toda avida! Que linda graça!

- Essa graça, miserável, consideraste-a como tal quando ta concederam! O teu cobarde coração, que tremia diante da morte, saltou de alegria ao anúncio de uma desonra perpétua, pois disseste para contigo, como todos os forçados: «Nas galés há uma porta que não existe na sepultura.» E tinhas razão, porque a porta das galés abriu-se para ti inesperadamente. Um inglês visita Toulon. Fizera voto de tirar dois homens da infâmia. A sua escolha recai em ti e no teu companheiro.

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Capa do livro O Conde de Monte Cristo
Páginas: 1080
Página atual: 803

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Marselha - A Chegada 1
O pai e o filho 8
Os Catalães 14
A Conspiração 23
O banquete de noivado 28
O substituto do Procurador Régio 38
O interrogatório 47
O Castelo de If 57
A festa de noivado 66
Os Cem Dias 89
O número 34 e o número 27 106
Um sábio italiano 120
A cela do abade 128
O Tesouro 143
O terceiro ataque 153
O cemitério do Castelo de If 162
A Ilha de Tiboulen 167
Os contrabandistas 178
A ilha de Monte-Cristo 185
Deslumbramento 192
O desconhecido 200
A Estalagem da Ponte do Gard 206
O relato 217
Os registos das prisões 228
Acasa Morrel 233
O 5 de Stembro 244
Itália - Simbad, o marinheiro 257
Despertar 278
Bandidos Romanos 283
Aparição 309
A Mazzolata 327
O Carnaval de Roma 340
As Catacumbas de São Sebastião 356
O encontro 369
Os convivas 375
O almoço 392
A apresentação 403
O Sr. Bertuccio 415
A Casa de Auteuil 419
A vendetta 425
A chuva de sangue 444
O crédito ilimitado 454
A parelha pigarça 464
Ideologia 474
Haydée 484
A família Morrel 488
Píramo e Tisbe 496
Toxicologia 505
Roberto, o diabo 519
A alta e a baixa 531
O major Cavalcanti 540
Andrea Cavalcanti 548
O campo de Luzerna 557
O Sr. Noirtier de Villefort 566
O testamento 573
O telégrafo 580
Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588
Os fantasmas 596
O jantar 604
O mendigo 613
Cena conjugal 620
Projetos de casamento 629
No gabinete do Procurador Régio 637
Um baile de Verão 647
As informações 653
O baile 661
O pão e o sal 668
A Sra. de Saint-Méran 672
A promessa 682
O jazigo da família Villefort 705
A ata da sessão 713
Os progressos de Cavalcanti filho 723
Haydée 732
Escrevem-nos de Janina 748
A limonada 762
A acusação 771
O quarto do padeiro reformado 776
O assalto 790
A mão de Deus 801
Beauchamp 806
A viagem 812
O julgamento 822
A provocação 834
O insulto 840
A Noite 848
O duelo 855
A mãe e o filho 865
O suicídio 871
Valentine 879
A confissão 885
O pai e a filha 895
O contrato 903
A estrada da Bélgica 912
A estalagem do sino e da garrafa 917
A lei 928
A aparição 937
Locusta 943
Valentine 948
Maximilien 953
A assinatura de Danglars 961
O Cemitério do Père-lachaise 970
A partilha 981
O covil dos leões 994
O juiz 1001
No tribunal 1009
O libelo acusatório 1014
Expiação 1021
A partida 1028
O passado 1039
Peppino 1049
A ementa de Luigi Vampa 1058
O Perdão 1064
O 5 de Outubro 1069