Passaram todo o dia entregues aos mais diversos exercícios, nos quais, aliás Monte-Cristo era excelente: mataram uma dúzia de faisões no parque, pescaram outras tantas trutas nos regatos, almoçaram num quiosque sobre o mar e serviram-lhes o chá na biblioteca.
Quase à noitinha do terceiro dia, Albert, quebrado de fadiga por aquela vida intensa, que parecia ser uma brincadeira para Monte-Cristo, dormia junto da janela enquanto o conde fazia com o seu arquitecto a planta de uma estufa que queria instalar em casa, quando o ruído de um cavalo nas pedras da estrada fez o rapaz erguer a cabeça. Olhou pela janela e, com uma surpresa das mais desagradáveis, viu no pátio o seu criado de quarto, de que não quisera fazer-se acompanhar para incomodar menos Monte-Cristo.
- Florentin aqui! - exclamou, saltando da poltrona. - Estará a minha mãe doente?
E precipitou-se para a porta do quarto.
Monte-Cristo seguiu-o com os olhos e viu-o chegar junto do criado, que, ainda esbaforido, tirou da algibeira um pacotinho selado que continha um jornal e uma carta.
- De quem é esta carta? - perguntou vivamente Albert.
- Do Sr. Beauchamp - respondeu Florentin.
- Foi Beauchamp que te enviou, então?
- Foi, sim, senhor. Chamou-me a sua casa, deu-me o dinheiro necessário para a viagem, arranjou-me um cavalo de posta e obrigou-me a prometer que não pararia enquanto não encontrasse o senhor. Fiz a viagem em quinze horas.
Albert abriu a carta a tremer. Logo que leu as primeiras linhas, soltou um grito e pegou no jornal a tremer visivelmente.
De súbito, os olhos nublaram-se-lhe, as pernas pareceram faltar-lhe, e, prestes a cair, apoiou-se em Florentin, que estendeu o braço para o amparar.
- Pobre rapaz! - murmurou Monte-Cristo, tão baixo que ele próprio não conseguiu ouvir as palavras de compaixão que pronunciara. - Mas Ele disse que os pecados dos pais recairão sobre os filhos até à terceira e quarta geração...
Entretanto, Albert recuperara forças e continuara a ler. Por fim, sacudiu os cabelos da testa coberta de suor, amarrotou a carta e o jornal e perguntou:
- Florentin, o teu cavalo está em condições de voltar a Paris?
- Além de ser um mau garrano de posta, está coxo.
- Oh, meu Deus! E como estava a casa quando a deixaste?
- Bastante calma. Mas quando voltei de casa do Sr. Beauchamp encontrei a senhora a chorar. Ela mandara-me chamar para saber quando o senhor voltaria. Então disse-lhe que ia procurá-lo da parte do Sr. Beauchamp. O seu primeiro movimento foi estender os braços, como que para me deter, mas, depois de um instante de reflexão, disse-me: «Está bem, Florentin, ele que volte.»
- Sim, minha mãe, sim - disse Albert -, volto, pode estar tranquila, e ai do infame!... Mas antes de mais nada tenho de partir.