O Sr. de Morcerf abriu pessoalmente a portinhola, com a carruagem ainda a rodar, e saltou como um rapaz na alameda lateral, tocou e desapareceu na porta escancarada com o seu criado.
Um segundo mais tarde, Baptistin anunciava ao Sr. de Monte-Cristo o conde de Morcerf, e Monte-Cristo, fazendo sair Haydée, ordenou que mandassem entrar na sala o conde de Morcerf.
O general media pela terceira vez a sala em todo o seu comprimento quando, virando-se, viu Monte-Cristo de pé no limiar.
- Ah, é o Sr. de Morcerf! - disse tranquilamente Monte-Cristo. - Julgava ter ouvido mal.
- Sim, sou eu - redarguiu o conde, com uma horrível contracçãode lábios que o impedia de articular claramente.
- Só me resta portanto saber agora - disse Monte-Cristo - o motivo que me proporciona o prazer de ver o Sr. Conde de Morcerf tão cedo.
- Teve esta manhã um duelo com o meu filho, senhor? - perguntou o general.
- Sabe disso? - respondeu o conde.
- E também sei que o meu filho tinha boas razões para desejar bater-se com o senhor e fazer tudo o que pudesse para o matar.
- Com efeito, senhor, tinha muito boas razões para isso! Mas, como vê, apesar dessas razões, não me matou, e até nem se bateu.
- E no entanto considerava-o a causa da desonra do pai, bem como a causa da ruína horrível em que neste momento mergulha a minha casa.
- É verdade, senhor - replicou Monte-Cristo, com a sua terrível calma. - Causa secundária, evidentemente, e não principal.
- Decerto lhe apresentou alguma desculpa ou deu qualquer explicação...
- Não lhe dei nenhuma explicação e foi ele quem me apresentou desculpas.
- A que atribui essa conduta?
- À convicção, provavelmente, de que havia em tudo isto um homem mais culpado do que eu.
- E quem era esse homem?
- O pai.
- Seja - admitiu o conde, empalidecendo. - Mas, como sabe, o culpado não gosta de ser acusado de culpabilidade.
- Pois sei... Por isso esperava o que acontece neste momento.
- O senhor esperava que o meu filho fosse um cobarde?! - gritou o conde.
- O Sr. Albert de Morcerf não é um cobarde – redarguiu Monte-Cristo.
- Um homem que empunha uma espada, um homem que tem ao alcance dessa espada um inimigo mortal, se esse homem não se bate, é um cobarde! É pena ele não estar aqui para lho dizer!
- Senhor - respondeu friamente Monte-Cristo -, presumo que me não veio procurar para me contar as suas pequenas desavenças familiares. Vá dizer isso ao Sr. Albert e talvez ele saiba responder-lhe.