O Conde de Monte Cristo - Cap. 92: O suicídio Pág. 876 / 1080

- Oh, não, não, tem razão, não vim para isso! - replicou o general com um sorriso, que se esfumou tão depressa como aparecera. - Vim para lhe dizer que também eu o considero meu inimigo! Vim para lhe dizer que o odeio instintivamente, que me parece que sempre o conheci e odiei! E, por último, que, uma vez que os jovens deste século já se não batem, compete-nos a nós bater-nos... Não é desta opinião, senhor?

- Perfeitamente. Por isso, quando lhe disse que previra que aconteceria isto, era da honra da sua visita que queria falar.

- Tanto melhor... Os seus preparativos estão feitos, então?

- Estão sempre, senhor.

- Sabe que nos bateremos até à morte de um dos dois? - perguntou o general, com os dentes apertados pela raiva.

- Até à morte de um dos dois - repetiu o conde de Monte-Cristo, acenando ligeiramente com a cabeça de cima abaixo.

- Vamos então; não necessitamos de testemunhas.

- Com efeito - disse Monte-Cristo -, é inútil. Conhecemo-nos tão bem!...

- Pelo contrário - redarguiu o conde -, não nos conhecemos de parte alguma.

- Ora, ora! - exclamou Monte-Cristo com a mesma fleuma exasperante. - Vejamos um pouco... O senhor não é o soldado Fernand que desertou na véspera da batalha de Waterloo? Não é o tenente Fernand que serviu de guia e espião ao exército francês em Espanha? Não é o coronel Fernand que traiu, vendeu e assassinou o seu benfeitor Ali? E todos estes reunidos não constituem o tenente-general conde de Morcerf; par de França?

- Oh! - exclamou o general, atingido por estas palavras como por um ferro em brasa. - Oh, miserável, que me lembras a minha vergonha no momento em que talvez me vás matar!... Não, não disse que te era desconhecido; sei bem demónio, que penetraste na noite do passado e leste, ignoro à luz de que archote, cada página da minha vida! Mas talvez ainda haja mais honra em mim, no meu opróbrio, do que em ti, debaixo das tuas aparências pomposas. Não, não, conheces-me, bem sei, mas eu não te conheço, aventureiro coberto de ouro e pedrarias! Apresentaste-te em Paris como o conde de Monte-Cristo, na Itália, como Simbad, o marinheiro - é o teu nome real que te pergunto, é o teu verdadeiro nome que quero saber, no meio das tuas centenas de nomes, a fim de o pronunciar no campo da luta, no momento em que te cravar a minha espada no coração.

O conde de Monte-Cristo empalideceu terrivelmente. Os seus olhos fulvos incendiaram-se num fogo devorador. Deu um salto ao gabinete contíguo ao seu quarto de cama, e em menos de um segundo, depois de arrancar a gravata, a sobrecasaca e o colete, envergou uma blusa de marinheiro e colocou na cabeça um chapéu de embarcadiço, sob o qual se desenrolaram os seus longos cabelos negros.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069