- O artigo não é meu, mas falaram-me dele. Duvido até que seja agradável ao Sr. de Villefort. Creio que diz que se se tivessem verificado quatro mortes sucessivas noutro lado em vez de na casa do Sr. Procurador Régio, o Sr. Procurador Régio ficaria decerto mais impressionado.
- No entanto, o Dr. de Avrigny, que é o médico da minha mãe, diz que está muito acabrunhado - declarou Château-Renaud.
- Que procura, Debray?
- Procuro o Sr. Conde de Monte-Cristo - respondeu o jovem.
- Encontrei-o no bulevar ao dirigir-me para aqui. Ia a casa do seu banqueiro; parece que está de abalada - informou Beauchamp.
- A casa do seu banqueiro?... Mas o seu banqueiro não é o Danglars? - perguntou Château-Renaud a Debray.
- Creio que sim - respondeu o secretário particular com uma leve perturbação. - Mas o Sr. de Monte-Cristo não é o único que cá falta. Também não veio o Morrel.
- O Morrel conhecia-os? - perguntou Château-Renaud.
- Creio que fora apresentado apenas à Sr.ª de Villefort.
- Não interessa, devia ter vindo - disse Debray. - De que falará esta noite? Este funeral é a notícia do dia... Mas caluda que vem aí o Sr. Ministro da Justiça e dos Cultos, que se vai julgar obrigado a fazer o seu pequeno speech ao primo lacrimoso.
E os três rapazes aproximaram-se da porta para ouvir o pequeno speech do Sr. Ministro da Justiça e dos Cultos.
Beauchamp dissera a verdade: quando se dirigia para casa de Villefort encontrara Monte-Cristo, que, pela sua parte, se dirigia para o palácio de Danglars, na rua da Chaussée-d'Antin.
O banqueiro vira da sua janela a carruagem do conde entrar no pátio e viera ao seu encontro com uma expressão triste, mas afável.
- Então, conde - disse, estendendo a mão a Monte-Cristo -, vem apresentar-me as suas condolências? Na verdade, a infelicidade persegue a minha casa, e de tal modo que quando o vi chegar perguntava a mim mesmo se não desejara a desgraça dos pobres Morcerfs, o que justificaria o provérbio: «Quem, mal quer, mal lhe acontece.» Pois dou-lhe a minha palavra de honra de que não desejei mal ao Morcerf. Era talvez um bocado orgulhoso para um homem que viera do nada como eu e que como eu devia tudo a si mesmo, mas cada um tem os seus defeitos. Acautele-se, conde! Olhe que as pessoas da nossa geração!... Mas, desculpe, o senhor não é da nossa geração, é ainda um rapaz... As pessoas da nossa geração não são felizes este ano. Prova-o o nosso puritano procurador régio, prova-o Villefort, que acaba de perder também a filha. Portanto, recapitulando: Villefort, como dizíamos, perde toda a família de uma forma estranha; Morcerf, desonrado, suicida-se; eu sou coberto de ridículo por esse celerado do Benedetto, e ainda por cima...