O Conde de Monte Cristo - Cap. 105: O Cemitério do Père-lachaise Pág. 976 / 1080

- Porque fala do meu pai? - balbuciou. - Porque confundir a memória do meu pai com o que me acontece hoje?

- Porque eu sou aquele que já salvou a vida ao teu pai num dia em que se queria matar como te queres matar hoje; porque sou o homem que mandei a bolsa à tua jovem irmã e o Pharaon ao velho Morrel; porque sou Edmond Dantès, o homem que te fez saltar, em criança, nos joelhos! Morrel deu mais um passo atrás, cambaleando, sufocado, arquejante, esmagado. Depois as forças abandonaram-no e, com um grande grito, caiu de joelhos aos pés de Monte-Cristo.

De repente, naquela natureza admirável operou-se uma reviravolta regeneradora súbita e completa. Levantou-se, saltou para fora do quarto e precipitou-se para a escada, gritando a plenos pulmões:

- Julie! Julie! Emmanuel! Emmanuel! Monte-Cristo quis segui-lo, mas Maximilien mais depressa se deixaria matar do que largaria o fecho da porta que fechara na cara do conde.

Aos gritos de Maximilien, Julie, Emmanuel, Penelon e alguns criados acorreram assustados.

Morrel pegou-lhes nas mãos, abriu a porta e gritou numa voz estrangulada pelos soluços:

- De joelhos! De joelhos! É o benfeitor, é o salvador do nosso pai, é…

Ia a dizer: «É Edmond Dantès!”, mas o conde deteve-o agarrando-lhe no braço.

Julie lançou-se sobre a mão do conde; Emmanuel beijou-o como um deus tutelar; Morrel caiu pela segunda vez de joelhos e bateu com a testa no chão.

Então o homem de bronze sentiu o coração dilatar-se-lhe no peito, um jacto de chama devoradora brotou-lhe da garganta e dos olhos, inclinou a cabeça e chorou!

Durante alguns instantes ouviu-se no quarto um concerto de lágrimas e suspiros sublimes, que decerto pareceu harmonioso aos anjos mais queridos do Senhor.

Mal se recompôs da profunda emoção que acabava de experimentar, Julie correu para fora do quarto, desceu um andar, correu à sala com alegria infantil e retirou o globo de cristal que protegia a bolsa dada pelo desconhecido das Alamedas de Meilhan. Entretanto, Emmanuel dizia ao conde, em voz entrecortada:

- Oh, senhor conde, como é que, vendo-nos falar tantas vezes do nosso benfeitor desconhecido, como é que vendo-nos rodear uma recordação de tanto reconhecimento e adoração, como é que esperou até hoje para se dar a conhecer?! Foi uma crueldade para connosco e quase me atrevo a dizer, Sr. Conde, também para consigo.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069