Receosa de ajuizar mal, por equívoca inteligência do que ouvira, buscou azo de provocar explicações de Calisto Elói. Como o ensejo lhe não saísse de molde, consultou a irmã, referindo-lhe o suposto galanteio do morgado. D. Catarina dissuadiu-a de pedir esclarecimentos, aconselhando-a a simular que o não entendera.
Pouco antes de terminada a partida, um moço legitimista recitou um poemeto dedicado ao nascimento do terceiro filho do Sr. D. Miguel de Bragança. Perguntou alguém a Calisto se conversava alguma hora com as musas, ou se, à maneira de Cícero, escrevia o desgracioso:
Ó fortunatam natam, me consule, Romam.
Disse o morgado, relanceando os olhos a Adelaide, que o seu primeiro parto métrico apenas tinha de vida quarenta e oito horas, e tão aleijado saíra que ele se envergonhava de o oferecer ao apadrinhamento de pessoas autorizadas.
Instaram damas e cavalheiros pela amostra da obra-prima, que certamente o era, atenta a modéstia do poeta.
— São versos — disse ele — que se poderiam mostrar aos quinze anos, e que seriam derisão e lástima aos quarenta e quatro anos.
Objectaram as damas argumentando que o homem de quarenta e quatro anos devia receber as inspirações dos vinte, porque no vigor da idade é que o coração fulgura em toda a sua luz.
Trejeitou Calisto uns esgares de satisfação ridícula. Eram os precursores de alguma enorme necessidade.