— Interessam-me e comovem-me — disse com afectuosa simpatia a brasileira. — Vai dizer-me que se apaixonou?
— Tive um delírio — respondeu o morgado, compassando as palavras em tom muito do íntimo. — Um delírio, sonho de infeliz, que desperta a arrancar do seio uma frecha. Foi o estremecer do terramoto, que alarma terrores, e se aquieta. Medi a profundeza da minha alma, e pude ver que eu seria capaz de um crime… E, todavia, se algum seio de mulher pudesse compreender quanta pureza santificava os meus afectos!… Se alguém visse a águia que por tão alto avoeja, sem descer às searas a roubar um grão!… Falo a um espírito elevado, que tem obrigação de me compreender… Agora, senhora, perdão! Eu disse tudo: confessei-me diante de um anjo de Deus. Mostrei-lhe o desamparo deste meu viver. E, se estas lágrimas alguma coisa significam, é uma súplica de amizade. Eu vejo aí uma formosura que dobra a alma, e ouso procurar o compadecimento de uma amiga, porque sei agora que há mulheres, diante das quais um homem precisa chorar.
Calou-se o morgado. Ifigénia encarava nele com certo assombro e estranheza de pessoa que não pode, nem quer conhecer dos sentimentos que a alvoroçam. O inesperado remate deste diálogo figurou-se-lhe a ela a passagem de um romance, que se não preza de muito verosímil. Porém, como quer que a viúva do general Ponce de Leão fosse grandemente lida em novelas francesas, o caso não lhe pareceu tão extraordinário como ao leitor e a mim, quando mo referiram.