Dada a resposta, o criado rodou solenemente nos calcanhares, e deixou o mestre-escola com o nariz num orifício da grade, e os olhos noutros orifícios, espreitando os maciços de murtas, que escondiam a fachada da casa.
Daí a pouco lobrigou ele entre os arbustos um galhardo homem com uma senhora pelo braço, atravessando vagarosamente para um bosque de aveleiras.
Fitou-se nele; mas não viu coisa que lhe desse lembranças do fidalgo da Agra. Cuidou que o tinham enganado os lisboetas, e desandou para a hospedaria.
Novamente informado, resolveu esperar que o morgado entrasse às dez horas, consoante o costume.
Sentou-se à porta do pátio.
Viu entrar um empavesado sujeito retorcendo as guias do bigode, com os olhos postos na lua através de uma luneta. Levou urbanamente a mão ao chapéu. Calisto, divertido pela acção civil do sujeito, ia corresponder, quando reconheceu o mestre-escola.
— Você aqui, Brás! — disse ele.
O professor arregaçou as pálpebras, e exclamou:
— Que vejo! a voz é a do fidalgo!
— Sou eu, não tenha dúvida nenhuma.
Brás levou a mão à testa, e da testa ao peito, e de um ombro ao outro, murmurando:
— Em nome do Padre, e do Filho, e do Espírito Santo! Coisa assim nunca os meus olhos esperaram ver!… V. Exa. é outro homem!… Eu estarei a dormir! — e esfregava os olhos, desconfiando seriamente que estava sonhando.
— Entre cá dentro — disse o morgado.
Entrados à sala, perguntou o fidalgo com um ar seco:
— Que novidade o traz aqui?