— Vim por aí abaixo, a fim de ver V. Exa., e ao mesmo tempo…
— Bem sei no que quer falar. O hábito de Cristo, sim?
— Não sendo coisa muito de costa acima…
— Há-de arranjar-se. E que mais?
— E que mais?…
Brás Lobato sentia-se como esmagado pelo tom ríspido e sobranceria do fidalgo. A concisão e rapidez das perguntas enleavam-no a ponto de o engasgarem nas respostas.
— Como ficou minha prima? — disse Calisto.
— Está muito contristada, senhor.
— Porquê?
— São saudades. Ainda na véspera da minha vinda esteve a chorar na eira… O melhor seria que V. Exa. viesse comigo para casa… Mas como o fidalgo está mudado!… Então V. Exa., pelos modos, era o mesmo que eu vi, ao fim da tarde, naquela casa que tem porta de ferro! Bem me diziam que V. Exa. estava lá com uma madama, e eu não o conheci.
— Aonde? — atalhou desabrido o morgado.
— Naquela casa que tem muitas flores.
— Quem o mandou lá?
— Uns fidalgos a quem eu perguntei por V. Exa..
— E quem o manda perguntar por mim?! Quem lhe disse que eu estava em Sintra?
— Foi no palácio do rei que…
— Então foi-me procurar no palácio do rei! O Sr. Brás é parvo!… Bem. Eu preciso recolher-me. Quer mais alguma coisa?
— Não, Sr. fidalgo… E V. Exa. não quer nada lá para a terra? — volveu logo o antigo sargento com o nariz rubro de cólera.
— Não quero nada.
— Pois eu para lá vou. Passe muito bem por cá e até lá.