Tinha mau nome em matéria de mulheres. A bruteza dos espíritos não lhe implicava o exercício de tramóias e bom palavreado com que mareava a reputação de muitas moças, que, à conta dele, ficaram solteiras; e também de algumas casadas, que não conservam as costelas todas.
Calisto desadorava este primo de sua mulher, em razão das suas ruins manhas; não obstante, admitia-o ao seu trato familiar, e consentia que Teodora, uma vez por outra, lhe desse alguns pintos para charutos, já que o irmão morgado lhos não dava, sem lançar o empréstimo a desconto da legítima.
Teodora, conquanto o excedesse em idade uns quatro anos, tinha sido criada com ele, e por suas mãos lhe fizera o enxoval, que o primo levou para Coimbra. Esta poesia de infância converteu-se nela em sentimentos benignos de generosidade para com as privações monetárias do sujeito, algumas das quais lhe remediou liberalmente a ocultas do marido. Mais se afervorou a estima da prima Teodora, quando viu que Lopo, na ausência de Calisto, amiudava as visitas, e lhe fazia companhia ao serão nas noites de Inverno.
Mandou, pois, a esposa angustiada chamar o primo Lopo de Gamboa. Já raivosa, já em mavioso soluçar, contou Teodora o que ouvira ao mestre-escola.
— Bem to agourava eu, prima! — disse Lopo, concluídos os queixumes de Teodora. — Eu sei o que são homens. Quando meu irmão morgado e outros santarrões me apontavam como exemplo as virtudes de teu marido, dizia-lhes eu: «Tirem-no da aldeia para Lisboa ou Porto, deixem-no lá estar dois meses, e esperem-lhe pela volta.»