Lopo de Gamboa, como grande farsola que era, sentiu impulso de desfechar uma risada na cara da prima. O homem viu-se ridículo até onde a consciência de um malandro se pode ver a si mesma.
Reteve-o, porém, a coerência do seu plano. Resolutamente disse que iria a Sintra, bem que nenhum sacrifício lhe pudesse ser mais cruelmente imposto ao coração.
— Irei — disse ele — irei buscar o marido da mulher que adoro. Venha mais esta punhalada da tua mão, prima.
— Valha-me Deus! — exclamou ela aflitivamente. — Tu dizes-me coisas que me fazem endoudecer! Pois tu não vês que eu já não posso dar o meu coração a outro enquanto for casada com um?
— Vejo que me não amaste nunca, Teodora. Dize a verdade… Nunca me tiveste amor?
— Eu sei cá, primo… Se me casasse contigo, tinha-te amor… Assim como casei com o meu marido, que hei-de eu fazer agora?
— Matar-me! — disse com veemência Lopo, deixando cair os braços, e descendo ao chão os olhos amortiçados.
— Ai! que pecados os meus! — exclamou Teodora. — Eu não sei o que te hei-de fazer, Lopo!
— Diz-me quando queres que eu parta para Lisboa — tornou ele gravemente.
— Então sempre queres ir, primo?
— Amanhã, hoje, quando quiseres.
— E não te custa?
— E a ti não te custa que eu vá?
— Eu queria que fosses, a ver se trazias para casa aquele perdido.
— Irei, já to disse.
— Então eu vou buscar-te dinheiro, primo. Quanto queres tu levar?