Passada a crise, Teodora ardia em febre, e dava pouco tino das pessoas que a rodeavam. Pareceu-lhe, porém, sentir um beijo nas costas da mão esquerda; e, olhando apressada na suposição de que era o marido, viu o rosto lastimoso do primo Lopo, que lhe disse a meia voz:
— Esquece o ingrato, prima!… Guarda a tua vida para quem te ama!…
Calou-se, porque entrava uma criada com um chá de cidreira e macela. Tomou ele das mãos da criada a chávena, e misturou o xarope a Teodora, que o foi bebendo com muitos vágados da cabeça desfalecida para sobre a espádua de Lopo, que se ajeitara para ampará-la.
À hora final Calisto entrou no quarto, e não se comoveu. Disse algumas breves e secas palavras de despedida, acrescentando que, fechado o segundo ano da sua legislatura, viria para casa.
Teodora ainda balbuciou:
— E deixas-me assim doente, homem?
— Esse incómodo é passageiro, prima. Logo que tu reflexiones um pouco, levantas-te curada. Mal da Pátria, se os deputados casados obedecessem aos caprichos das mulheres, que lhes impedem irem onde o dever os chama! Pensas assim, porque foste educada rusticamente. Era minha tenção tirar-te daqui, levar-te para terra de gente, dar-te alguma educação, para depois te poder levar comigo para qualquer terra culta; vejo, porém, que desatinas e te fazes criança numa idade imprópria de ciúmes.
— Olha que não és mais novo que eu! — bradou ela. — Tens quarenta e quatro e eu quarenta.