Comprou o fidalgo da Travanca a pavorosa notícia, e esteve largo tempo a soletrá-la, sentado à porta da igreja do Loreto.
Terminada a leitura, o velho disse entre si:
— Isto é má terra! Tomara-me eu daqui para fora!… Os netos matam os avós…!
Chamou um galego, que o guiou ao palácio das Cortes. Perguntou ao porteiro se estava lá dentro o deputado Calisto Elói, morgado da Agra de Freimas.
— Não sei — disse mal encarado o funcionário.
— Eu sou tio dele; faça favor de lhe ir dizer que está aqui o tio Paulo de Figueiroa.
— Não posso lá ir — volveu o porteiro, mais brando. — Peça àquele Sr. deputado, que aí vem, que lho diga.
Paulo dirigiu-se a um sujeito de exterior sacerdotal. Era o abade de Estevães.
— Essa pessoa está fora de Lisboa, creio eu — disse o deputado — pelo menos pediu licença às Câmaras para retirar-se.
— Iria para casa? — perguntou o velho.
— Creio que não. Então o senhor é tio dele? — Sou tio dele em terceiro grau, e sou irmão do pai da mulher dele, para o servir.
— Pobre senhora! — murmurou compassivamente o padre. — Ela perdeu um excelente marido, e o partido legitimista um estrénuo defensor.
— Então meu sobrinho — atalhou Paulo — já não é legitimista?!
— Qual! fez-se um malhado acérrimo. Está com esta gente, e de mais a mais fez-se governamental!…
— Oh! que maroto!…
— E tudo isto, meu caro senhor, deve-se à desmoralização de uma mulher, que lhe tirou o juízo e a dignidade, e lhe há-de dar cabo da casa. Apresenta-se com ela nos teatros, e tem-na em palacete com carruagem montada, e lacaios e estado de princesa. E a pobre senhora lá na província a economizar as rendas, que ele está por cá delapidando!…