A Queda de um Anjo - Cap. 5: Capítulo 5 Pág. 20 / 207

Quando morara na Alfama, observara ele que, naquele bairro, as mulheres eram sardentas, roxo-terra, e crespas de pele. Pois o clássico Marinho saía-lhe com este desmentido aos seus próprios olhos:

«Tem mais outra propriedade oculta a água do chafariz (de El-Rei) que é conservar o rosto das mulheres que com ela se lavam em uma alvura engraçada e cor natural tão encarnada, que não necessita de unturas, nem confecções que com elas se envelhecem antes de tempo: o que se vê claramente na vantagem que as de Alfama levam às dos outros bairros no carão, rosto mimoso e cor que logo se conhece por natural; e, bastara isto, por desengano às que as usam postiças, não fora pequeno o fruto, que se tirara de ler este parágrafo, havendo quem lho recitasse.»

Calisto Elói certamente não iria recitar o parágrafo a nenhuma senhora pálida e magra, depois da incivil resposta que lhe deu a porteira de Santa Joana, e mais ainda com a desconfiança em que o puseram os bons autores da sua predilecção.

Parece, porém, que ele andava aporfiado em afogar o seu recto juízo nas águas de Lisboa. Lera o deputado que também o chafariz dos cavalos da rua Nova tinha prodigiosas virtudes em cura de moléstias de olhos. Procurou a rua Nova, que o terramoto de 1755 soterrara; procurou o chafariz, que, segundo ele, devia estar na rua dos Capelistas ou Algibebes sucessoras daquela rua. Ninguém lhe dava conta do chafariz dos cavalos; e alguns logistas interrogados supuseram que o provinciano não podia beber em fonte que não tivesse aquela aplicação.





Os capítulos deste livro