O orador: — E a pobreza também. A civilização que canta e dança, enquanto três partes do País choram. A civilização dos civilizados que dizem: Coronemus nos rosis antequam marcessant. A civilização do perdulário irrisório, que traja de luzente lemiste no exterior, e aconchega da pele uma camisa surrada e fétida. Magnífica civilização! Não sei de selvagens que no-la possam invejar, e queiram cambiar connosco a sua selvatiqueza!
Sr. presidente, gozem nas boas horas os sátrapas da capital os deleites da sua civilização teatral. Despendam-se, arruínem-se, doudejem com essas ficções e visualidades, que relembram factos de alto escândalo que não deviam ser vistos à luz da civilização que o meu ilustre colega preconiza. Se gostam, não serei eu, homem de outros tempos e gostos, quem lhes impugne a racionalidade de seus passatempos. O que eu requeiro, em nome da justiça e da pobreza do País, é que se não sisem os povos provinciais para manutenção dos divertimentos de Lisboa. O que eu contesto é o direito de me fazerem pagar a mim e aos meus vizinhos as notas garganteadas dos ganha-pães que não têm na sua terra ofício honesto em que vivam com seriedade e utilidade comum.