Ora, o homem que os assaltou no seu éden foi o Sr. D. Bruno de Mascarenhas.
— Eu!… — exclamou o moço com artificial espanto.
— V. Exa.. Vejo-o admirado, não sei se da minha afoiteza, se da responsabilidade que lhe pesa, Sr. D. Bruno!
— Mas o que houve em casa do Sarmento? — perguntou alvoroçado o fidalgo.
— O que eu antes de ontem vi foi a face do ancião lavada de lágrimas. O que eu vi ontem à noite foi D. Duarte de Malafaia fitar os olhos nas criancinhas, e escondê-los para que o não vissem chorar. O que hoje verei em casa do desembargador Sarmento, se V. Exa. o não pressagia… Não temos tempo para conjecturas; a chaga deve ser cauterizada já, para não ser gangrena amanhã. Quer V. Exa. ajudar-me a conjurar a nuvem negra que vai rasgar-se em torrentes de desgraças?
D. Bruno reflectiu dois segundos, como se houvesse pejo de responder, no primeiro instante:
— Da melhor vontade. Eu desisto destas relações, para evitar desgostos sérios à Sra. D. Catarina.
— Fala-me um honrado português, que tem o apelido dos Mascarenhas? — perguntou com solenidade o Barbuda.
— Juro pela honra de meus avós.
— Que vai fazer V. Exa.? — tornou Calisto.
— Antecipo um passeio que mais tarde tencionava fazer à Europa. Parto no paquete de amanhã para França.
— Sem dizer nem fazer saber à Sra. D. Catarina que esteve aqui um amigo do desembargador Sarmento.
— Nada direi, Sr. Barbuda.
— Aperto-lhe e beijo esta mão. Agradeço-lho em nome dos cinco filhos de Duarte Malafaia, ou dos cinco anjos que lhe chamam pai.