Morrer para ali, só, como um cão.
A condessa não dizia nada, com os olhos perdidos no mar.
E Ritmel vindo para mim, tomando-me o braço, com um gesto desesperado:
- Vês tu! Vês isto? Eu sofria tudo por ela; a desonra, a infâmia, o desprezo; abandonava o mundo, renegava a minha farda, queria a pobreza, o escárnio, tudo por ela. Diz-se a um homem - amo-te, vai-se fugir com ele, está-se num navio, e de repente, a meia hora da felicidade e do paraíso, quando já se não vê terra, vem um escrúpulo, uma mágoa, uma saudade do marido talvez, uma lembrança de um baile, ou de uma flor que ficava bem - e adeus para sempre! e quer-se voltar; e tu, miserável, sofre, chora, arrepela-te, e morre para aí como um cão. O meu amigo, eu não tenho voz, nem força: previna o piloto: a senhora condessa tem pressa de chegar a terra!…
- William! William! gritou a condessa, precipitando-se, tomando-lhe as mãos. Mas tu não percebes nada? Em Malta, como em Alexandria, eu sou tua, só tua… tua diante de Deus, tua diante dos homens…
Neste momento ouviu-se a voz distante de um sino!
Eram os sinos de Malta. A terra ficava em frente.
A suavidade da hora era extrema; o ar estava inefavelmente límpido. Viam-se já as aldeias brancas, o altivo perfil de la Valete. O sol descia. Os seus últimos raios oblíquos faziam cintilar os miradouros. Distinguiam-se no cais os vendedores de flores. Duas gondolas corriam para nós. Houve um grande ruido nas velas, assobios de manobras, o navio parou, e a âncora caiu na água! Tínhamos chegado. Os sinos de Malta continuavam repicando.