E eu estou aqui a morrer. E ele? lembrar-se-á de mim? também não. Choro, choro, quando penso que o não vejo, que não está aqui, que morro e que ele se não lembra de mim!
E soluçava, com a cabeça escondida no travesseiro.
- Ritmel é uma alma nobre. Estima-a, creia…
- Mas esquece-me! dizia ela suspirando e limpando os olhos. De resto, de mim ninguém se lembra. Eu não sou uma mulher de quem se seja enfermeiro. «Estás boa? estás alegre? amo-te». «Estás a morrer? Vai-te fazer enterrar para outro sitio!» É bem triste este mundo!
Lord Grenlei, com os olhos rasos de água, mordia convulsamente o seu cachimbo.
- Guarde bem os meus cabelos, sim? dizia-me ela. Diziam que eram bonitos. Se eu por acaso não morresse, tínhamos de ir todos a Sevilha. Que lindo que é Sevilha. à tarde, nas Delicias, todo o mundo traz um ramo de flores.
De repente abriu demasiadamente os olhos como diante de uma coisa pavorosa; levou as mãos à face, gritou:
- Meu padre, meu padre, tenho medo. Não é já o castigo, não? Se caio no inferno, meu Deus!
- O inferno é uma visão, minha pobre senhora! dizia o capelão. Os castigos de Deus não são feitos com o fogo.
- Tem razão, tem razão. Sinto-me morrer, venham todos. Lembrem-se de mim, sim?
Alguns marinheiros tinham-se aproximado. O capelão ajoelhou: todos tiraram os barretes, rezavam baixo. Lord Grenlei ficara de pé, descoberto, imóvel. Grossas nuvens escuras corriam outra vez no céu. O vento começava a assobiar.
- Adeus, disse-me ela. Dê-me a sua mão. Bem. Fui uma boa rapariga, por fim… Um pouco estroina, talvez… Lord Grenlei, obrigada. Que tristeza, ter morrido alguém no seu yacht!… Que é aquilo, além, ao longe? É a terra? São nuvens. Ah! meu querido Ritmel! ah! meu amor, ouve-me, onde estás tu?
Duas grandes, tristes lágrimas, correram-lhe na face: teve ainda força para as enxugar.