Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 26: CAPÍTULO XIV

Página 146

Não sentirás em volta de ti no teu enterro cantos em mau latim, o som das campainhas, a voz aguda dos meninos do côro, os comentários estúpidos da multidão, as grosseiras enxadadas do coveiro. Serás lançada à tua cova do mar no meio de um silêncio militar, levando por mortalha a bandeira inglesa, ao cantochão infinito dos ventos e das águas.

Não ficarás para sempre apertada em cinco palmos de terra, sentindo a boca das raízes pastar o teu seio e a multidão dos vermes entrar no teu corpo como numa cidadela vencida. Não! a tua morte será uma perpétua viagem: viverás nas grutas transparentes de luz, guardarás os tesouros misteriosos, visitarás as cidades de coral que luzem no fundo do mar, amarás o corpo encantado de algum louro príncipe, outrora pirata normando! Andarás dispersa no elemento, sombra infinita, alma da água!

Sobre o teu túmulo não virão sentar-se os burgueses, benzer-se os sacristães, cacarejar as galinhas; sobre a tua azul sepultura errará o vento, melancólico velho que visita os seus mortos.

Não terás um epitáfio metrificado por um poeta elegíaco, e aprovado pela camara municipal; serão os reflexos inefáveis das estrelas que se encruzarão para formar sobre a tua sepultura as letras do teu nome…

Um marinheiro bateu-me no ombro.

- São 11 horas, disse ele.

Ergui-me em sobressalto, e pensando nas vãs quimeras que se tinham estado formando no meu cérebro naquele triste cismar, disse comigo:

- Pobre de mim! Tinham-me esquecido os tubarões.

Eram 11 da noite. Não havia estrelas. Todos estavam reunidos na tolda.

Tinham-se posto lanternas nas cordagens, e acendido archotes.

Dois marinheiros tomaram o cadáver nos braços. O padre abençoou-o. Ligou-se-lhe ao corpo com uma corda a bandeira inglesa.

<< Página Anterior

pág. 146 (Capítulo 26)

Página Seguinte >>

Capa do livro O Mistério da Estrada de Sintra
Páginas: 245
Página atual: 146

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
CARTA AO EDITOR, 1
PRIMEIRA PARTE - EXPOSIÇÃO DO DOUTOR
CAPÍTULO I
5
CAPÍTULO II 10
CAPÍTULO III 14
CAPÍTULO IV 18
CAPÍTULO V 25
CAPÍTULO VI 30
CAPÍTULO VII 37
SEGUNDA PARTE - INTERVENÇÃO DE Z.
CAPÍTULO I
44
TERCEIRA PARTE - DE F… AO MÉDICO
CAPÍTULO I
50
CAPÍTULO II 56
CAPÍTULO III 60
QUARTA PARTE - NARRATIVA DO MASCARADO ALTO
CAPÍTULO I
79
CAPÍTULO II 85
CAPÍTULO III 91
CAPÍTULO IV 94
CAPÍTULO V 102
CAPÍTULO VI 108
CAPÍTULO VII 113
CAPÍTULO VIII 118
CAPÍTULO IX 123
CAPÍTULO X 125
CAPÍTULO XI 130
CAPÍTULO XII 134
CAPÍTULO XIII 138
CAPÍTULO XIV 143
CAPÍTULO XV 149
QUINTA PARTE - AS REVELAÇÕES DE A. M. C.
CAPÍTULO I
154
CAPÍTULO II 163
CAPÍTULO III 165
CAPÍTULO IV 170
CAPÍTULO V 182
CAPÍTULO VI 187
SEXTA PARTE - A CONFISSÃO DELA
CAPÍTULO I
190
CAPÍTULO II 195
CAPÍTULO III 197
CAPÍTULO IV 204
CAPÍTULO V 208
CAPÍTULO VI 213
CAPÍTULO VII 217
CAPÍTULO VIII 221
CAPÍTULO IX 226
CAPÍTULO X 231
SÉTIMA PARTE - CONCLUEM AS REVELAÇÕES DE A. M. C.
CAPÍTULO I
236
CAPÍTULO II 240