A um recanto, minha mãe sorria, com os olhos banhados de ternura, do fundo da caverna formada em redor do seu rosto pela côca de uma ampla e poderosa mantilha de pano preto.
Fiz depois os estudos preparatórios no liceu da cidade, e vim finalmente matricular-me em Lisboa na escola de medicina.
Vivo pobre, humilde e obscuramente, tenho a minha existência adstrita a uma pequena mesada, à convivência de alguns companheiros de estudo e ao trato de duas senhoras velhas e pobres, irmãs de um capitão reformado, antigo aboletado do meu pai, em cuja casa de hóspedes eu tenho por modico preço a minha moradia na capital.
A única luz que atravessava a sombra da minha vida de desterro, de desconsolo e de trabalho, era a lembrança de teresinha…
Terezinha! a doce, a meiga, a querida companheira, à qual eu consagro principalmente estas páginas, que são o capitulo único da minha vida que ela não conhece, a confissão sincera, a história completa do único erro de que posso acusar-me perante a sua inocência, a sua bondade, e o seu amor!
Terezinha! adorada flor escondida entre as estevas dos nossos montes, que ninguém conhece, que ninguém viu, de quem ninguém se ocupa, e que no entanto inundas inefavelmente a minha mocidade e a minha vida com o sagrado perfume de um amor casto, puro, imperturbável e calmo como a luz das estrelas.
Se tu as entenderás, minha inocente amiga, estas palavras!
Se me perdoarás, tu, a enfermidade passageira e misteriosa, cuja história eu ponho confiadamente nas tuas mãos, pedindo-te, não o balsamo da cura para uma chaga que está fechada para sempre, mas o sorriso da benevolência e do perdão para a vaga e sobressaltada melancolia do convalescente ajoelhado aos teus pés!
Como quer que tenha de ser, minha noiva, eu entendo cumprir perante a minha consciência um dever sagrado contando-te, sem omissões e sem reticências, tudo, absolutamente tudo, quanto se passou por mim.