Esta informação era insuficiente para que eu o distinguisse naquela torre de Babel. De página para página ia-me surpreendendo uma nova língua. Havia francês, italiano, alemão, inglês, espanhol… O nome de Ernesto Renan aparecia sobposto a duas palavras caldaicas; Garcin de Tassi, orientalista na Sorbone, firmava um período em língua hindustânica; Abd-e-lKader tinha deixado simplesmente o seu nome árabe; a princesa Dora Distria assinava de Turim um pequeno texto albanês. Nomes portugueses, apenas dois.
A leitura dos textos não me adiantava mais do que a simples inspeção da variedade dos nomes e da diferença de línguas.
Ao chegar a casa, vi que o número que a condessa me indicara era o de um prédio de um só andar, pobre de aparência, quase vizinho à casa que eu habitava, perto de uma esquina, colocado ao lado de um prédio mais saliente, e tendo a porta num angulo reentrante que a escondia da parte principal da rua. Para o lado oposto até à esquina próxima havia uns armazéns desabitados. em frente corria um velho muro, ao alto do qual sobressaiam as ramas secas de um canavial. A situação topográfica da casa onde estava o morto permitia-me pois entrar e sair dela sem ser visto.
Ali dentro haveria talvez um papel, uma carta, uma nota, que me revelasse o nome que desejava conhecer.
Dei a volta à chave e entrei. No alto da escada, junto de uma porta cerrada, estava caída uma luva e dois bocados de papel. Um era meia folha pequena, lisa, em branco. O outro era um pedaço de envelope; tinha no alto um carimbo do correio de Lisboa com a data do dia anterior; a um canto havia inutilizada uma estampilha francesa; no subscrito lia-se: Mr. W. Ritmel.
Este nome achava-se no álbum da condessa por baixo de dois versos ingleses.
A luva, que levantei do chão, era de mão de homem, e de pelica branca com cordões pretos.