- Não pode ser, doutor!, gritou o mascarado. É uma suposição absurda.
- Absurda!?… E este aposento, este quarto forrado de seda, fortemente perfumado, carregado de estofos, iluminado por uma claridade baça coada por vidros foscos; a escada coberta com um tapete; um corrimão engenhado com uma corda de seda; ali aos pés daquela volteriana aquele tapete feito de uma pele de urso, sobre a qual me parece que estou vendo o vestígio de um homem prostrado? Não vê em tudo isto a mulher? Não é esta evidentemente uma casa destinada a entrevistas de amor?…
- Ou a qualquer outro fim.
- E este papel? este papel de marca pequeníssima, do que as mulheres compram em Paris, na casa Maquet, e que se chama papel da Imperatriz?
- Muitos homens o usam!
- Mas não o cobrem como este foi coberto, com um sachet em que havia o mesmo aroma que se respira no ambiente desta casa. Este papel pertence a uma mulher, que examinou a falsificação que ele encerra, que assistiu a ela, que se interessava na perfeição com que a fabricassem, que tinha os dedos húmidos, deixando no papel um vestígio tão claro…
O mascarado calava-se.
- E um ramo de flores murchas, que está ali dentro? um ramo que examinei e que é formado por algumas rosas, presas com uma fita de veludo? A fita está impregnada do perfume da pomada, e descobre-se-lhe um pequeno vinco, como o de uma unhada profunda, terminando em cada extremidade por um buraquinho… É o vestígio flagrante que deixou no veludo um gancho de segurar o cabelo!
- Esse ramo podiam ter-lho dado, podia tê-lo trazido ele mesmo de fora.
- E este lenço que encontrei ontem debaixo de uma cadeira?
E atirei o lenço para cima da mesa. O mascarado pegou nele avidamente, examinou-o e guardou-o.
M. C. olhava pasmado para mim, e parecia aniquilado pela dura logica das minhas palavras.