Era isso que me preocupava, fora isso que me impedira de entrar. Levantei-me ei hesitante, como num sonho, caminhei em redor da igreja. Apercebi-me de que, com ele, já me magoara para além de qualquer possibilidade de reparação. Deste modo, ser-me-ia agora extremamente penoso sentar-me junto a Miles na obscuridade do templo, já que por certo ele aproveitaria a ocasião para enfiar o braço no meu e obrigar-me a ficar ali durante uma hora, naquela íntima e silenciosa proximidade com o que ele acabara de me dizer. Pela primeira vez desde que o garoto ali chegara, desejei afastar-me dele. Ao parar junto a uma das vidraças e ao escutar o som daquelas vozes que oravam, deixei-me arrastar por um impulso que, devidamente alimentado, talvez tivesse acabado por revelar-se decisivo. Podia ter posto um ponto final naquilo tudo indo-me embora de uma vez por todas. Era a minha oportunidade. Não havia ninguém para me impedir. Por que não desistir de tudo, virar as costas e desaparecer? Só precisava de me apressar para ir arrumar as coisas, e, estando quase todos na igreja, ninguém daria por nada. E, afinal, quem é que poderia culpar-me, quando era por desespero que fugia? E se a fuga durasse apenas até à hora do jantar, que consequências teria? Apenas que, passadas duas ou três horas — e a imagem desenhou-se no meu espírito com uma nitidez impressionante — os meus jovens educandos tratariam de representar uma inocente estranheza pela minha ausência na igreja.
«Que é que andou a fazer, sua malandra?! Por que razão nos deixou preocupados e nos abandonou mesmo à porta?» Sentia-me incapaz de enfrentar este tipo de perguntas, e muito menos aqueles olhinhos onde a falsidade andava de mãos dadas com a beleza. Contudo, ao aperceber-me de que era exactamente isto que me esperava, acabei por deixar-me levar por aquele que fora o meu primeiro impulso.