Assim, aquele dia foi passado a andar de um lado para o outro. Acabei por combinar, e o facto não podia tê-la deixado mais satisfeita, que seria ela, e apenas ela, quem me mostraria a casa. E assim o fez, mostrou-me toda a casa, degrau a degrau, quarto a quarto, segredo por segredo, e, enquanto o fazia, não parava de tagarelar, o que acabou por resultar no nascimento de uma forte amizade entre ambas. Dada a sua tenra idade, espantou-me a confiança e coragem por ela demonstradas ao entrar em quartos vazios e corredores sombrios, ao subir escadarias íngremes que me faziam hesitar, e mesmo ao chegar ao topo de um torreão quadrado e com balestreiros que teve o condão de me deixar tonta. No entanto, a sua voz musical, a vontade por ela revelada em contar-me muito mais que aquilo que as minhas perguntas requeriam, tudo isto constituiu para mim um forte incentivo. Nunca mais vi Bly desde o dia em que abandonei a propriedade, e hoje, à luz de tudo o que vivi e aprendi desde então, sem dúvida que a consideraria pouco importante. Porém, ao ver a minha pequena anfitriã, de cabelos touros e vestido azul, avançar como que dançando por corredores e salas, era como se estivesse num castelo digno de um romance, um lugar habitado por uma fada cor-de-rosa, que, e para um espírito tão jovem quanto o meus fazia que todos os livros de histórias e contos de fadas perdessem grande parte do colorido que lhes era característico. Afinal, teria eu, meio a dormir, meio a sonhar, caído num livro de histórias? Não, de maneira nenhuma Aquela era urna casa enorme, feia e antiga, construída a partir de um edifício ainda mais antigo e do qual conservava algumas características, algo deslocada e semi-aproveitada, onde eu ficava com a sensação de estar tão perdida como um grupo de náufragos a bordo de um navio à deriva. Bem, estranhamente, era eu quem estava ao leme!