— Ela não está demasiado doente, mas, se aqui tivesse ficado, então talvez isso acabasse por acontecer. Este foi o momento apropriado para a mandar embora. A viagem acabará por dissipar todas as influências negativas que esta casa lhe transmitia. — Quanta solenidade nas minhas palavras! — Compreendo, compreendo. — Quando queria, Miles sabia mostrar-se igualmente solene. Dito isto, começou a comer com aqueles modos encantadores que, desde o dia em que o garoto ali chegara, nunca haviam dado azo a qualquer tipo de repreensão da minha parte. Uma coisa era certa: a sua expulsão da escola não ficara a dever-se a falta de maneiras à mesa, Tal como sempre, também naquela noite Miles fez questão de se mostrar impecável, embora desta vez parecesse mais consciente do facto que nunca. Era evidente que ele procurava situar-se no meio de tudo aquilo, e, assim que conseguiu esboçar um quadro da situação, optou pelo silêncio. A refeição caracterizou-se pela brevidade — eu própria apenas fingi comer — e de pronto pedi que levantassem a mesa. Enquanto esta operação decorreu, Miles levantou-se e, de novo com as mãos nos bolsos, virou-me as costas e ficou a olhar para aquela janela onde eu tivera a visão. Permanecemos calados enquanto a criada esteve connosco — tão calados, ocorreu-me, como um casal de recém-casados que, depois de partirem em lua-de-mel, param pela primeira vez na estalagem e se sentem constrangidos com a presença da criada. Só depois de a rapariga nos deixar é que ele deu meia volta. — Bom... Cá estamos... Sozinhos!