Calafrio - Cap. 4: Capítulo 4 Pág. 30 / 164

Durou o tempo necessário para me permitir concluir que o lugar ali ocupado por mim era incompatível com aquele tipo de ignorância. Durou o tempo preciso para que este visitante — e, pelo que posso recordar, o facto de ele não usar chapéu conferia um toque de familiaridade à sua presença — parecesse concentrar-se em mim, como que desejoso de avaliar o efeito causado pela sua presença. Estávamos demasiado distantes um do outro para que pudéssemos chamar-nos, mas houve um momento em que, quebrando o silêncio, uma espécie de desafio resultante do facto de não pararmos de nos olhar como que quebrou a paz artificial que ali se instalara. O homem encontrava-se num dos cantos do torreão, naquele que mais se afastava da casa, erecto e com ambas as mãos pousadas no parapeito. Assim, vi-o como estou a ver as letras que se vão formando nesta página. Por fim, passados alguns instantes, e como que para dar um pouco mais de interesse ao espectáculo, ele mudou lentamente de lugar e, sempre com os olhos fixos em mim, instalou-se no canto oposto da plataforma. Sim, sem dúvida que me perturbou o facto de, durante o movimento, aquela criatura nunca deixar de me fitar, e, até ao momento presente, é como se estivesse a ver o caminho percorrido pelas suas mãos quando o homem passava de uma ameia para outra. Por fim, imobilizou-se na outra esquina, mas permaneceu ai durante pouco tempo, e mesmo quando se afastou os seus olhos não largaram a minha figura. Ele afastou-se; era tudo quanto sabia.





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