Calafrio - Cap. 8: Capítulo 8 Pág. 60 / 164

Mrs Grose entendeu que talvez estivesse na altura de tecer algumas considerações a respeito de matizes

— Nunca vi ninguém como ele. Fazia tudo o que queria.

— Com ela?

— Com todos.

Era como se Miss Jessel estivesse de novo frente aos olhos da minha amiga. Tentei encontrar neles um reflexo da criatura que vira junto ao lago, depois do que cheguei a uma conclusão.

— Bom, aposto que também era isso que ela queria!

O rosto de Mrs. Grose dava a entender que fora assim que as coisas se haviam passado, mas, ainda assim, a única coisa que deixou escapar foi um lamento.

— Pobrezinha... acabou por pagar bem caro.

— Isso quer dizer que sabe como ela morreu? — inquiri, ansiosa.

— Não, de maneira nenhuma. Não quis saber nada a esse respeito e estou contente por assim ter sido. Graças a Deus que ela já cá não estava.

— Mas tem as suas suspeitas...

— Sobre os motivos que a levaram a sair daqui? Oh, sim, claro! Era-lhe completamente impossível continuar aqui. Afinal, sempre era a preceptora das crianças! Só depois de ela partir é que comecei a pensar... Ainda hoje o faço. E garanto-lhe que o que me vem à cabeça não podia ser pior. — Não pior que as coisas que eu imagino — retorqui. Nesta altura o meu rosto assumiu uma expressão de derrota. O facto despertou nela uma nova onda de compaixão, e, face à ternura que aquela mulher demonstrava por mim, todas as minhas forças acabaram por ceder. Desta feita, foi a minha vez de irromper num pranto inconsolável, o qual apenas redobrou de intensidade quando a mulher me puxou contra si, ao mesmo tempo que esboçava um gesto maternal. — Não sou capaz! — E não parava de chorar, desconsolada. — Não sou capaz nem de salvá-los nem de protegê-los. Isto é tudo muito pior que aquilo que eu pensava. Eles estão perdidos!





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