— E foi até à janela para ver se me descobria? — inquiri. — Pensou que eu tinha ido dar um passeio no jardim?
— Bom, fiquei com a impressão de que andava alguém lá fora. — Ela nunca empalidecia quando me dirigia aqueles sorrisos maravilhosos.
E como eu a olhei ao ouvir aquilo!
— E chegou mesmo a ver alguém?
— Claro que não! — retorquiu ela com a espécie de ressentimento que é um privilégio próprio da infância; mas havia doçura na sua negação.
Nesse instante, e no estado de nervos em que me encontrava, acreditei piamente que aquilo que acabara de ouvir era mentira, e, se voltei a fechar os olhos, isso foi antes de ser assaltada por três ou quatro formas possíveis de agir. De entre estas hipóteses, houve uma que me tentou com mais intensidade, e para resistir ao seu apelo, devo ter agarrado a garotinha com uma força tal, que constituiu uma autêntica maravilha o facto de ela se submeter àquele abraço sem um sã grito ou sinal de medo. Por que não obrigá-la a confessar tudo quanto antes? Por que não dizer-lhe, fitando bem de frente aquela carinha encantadora: <Mó sim, minha menina, sabe bem que viu e que até já suspeita que eu sei disso; assim, por que não confessá-lo francamente, para que possamos ao menos enfrentar tudo isto juntas e ficar a saber o que significa este nosso estranho fado? Mas esta determinação caiu por terra no momento em que foi formada. Se lhe tivesse sucumbido, isso poderia ter-me poupado. . . bom, acabarão por perceber o quê. Assim, pus-me em pé de um salto, deitei uma olhadela à cama da criança e decidi enveredar pelo caminho mais fácil.