Tratava-se de um aposento quadrado, bastante grande, arranjado de forma a funcionar como quarto de dormir, mas as suas dimensões eram de tal forma exageradas que, embora Mrs. Grose o mantivesse devidamente arranjado, ninguém o ocupava há muitos anos. Observara-o muitas vezes com admiração e sabia bem como lá chegar. Tudo o que tinha a fazer era, uma vez ultrapassado o primeiro arrepio provocado pelo frio que impera em todos os quartos desabitados, atravessá-lo e, devagar, abrir uma das persianas. Depois de levar a cabo esta operação, encostei o rosto ao vidro e verifiquei que não me tinha enganado na direcção. Foi nesse momento que descobri haver ali uma coisa mais. A lua cheia fazia que a noite se apresentasse de uma limpidez impressionante e mostrou-me que no relvado se encontrava uma pessoa, de estatura diminuída pela distancia, perfeitamente imóvel e olhando na direcção do ponto onde me encontrava — ou antes, num ponto que me pareceu situar-se mesmo por cima de mim. Havia claramente alguém no andar de cima, ou seja, na torre. Porém, a criatura que estava no relvado não era de forma alguma aquela que eu esperava encontrar. A figura que estava à minha frente — e senti-me praticamente desfalecer quando o descobri — era nem mais nem menos que o pobre Miles.